Afastado por 18 anos, reintegrado e preso: ironias do alto da toga
Magistrado voltou à Justiça em 2022, virou desembargador em 2023 e agora é alvo da PFA trajetória do desembargador Macário Ramos Júdice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), ganhou mais um capítulo nesta terça-feira (16) — desta vez fora dos autos e dentro de uma viatura. Ele foi preso no Rio de Janeiro durante a Operação Unha e Carne 2, que investiga o vazamento de informações sigilosas e obstrução de investigações envolvendo a Operação Zargun.
Júdice Neto era relator do processo do ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Jóias, investigado por tráfico de drogas, associação ao Comando Vermelho e uso do mandato para beneficiar facção criminosa. A suspeita é que o magistrado teria repassado informações sobre a operação policial ao parlamentar, numa troca que, se confirmada, transforma segredo de Justiça em notícia antecipada para quem não deveria saber.
A operação também teve como alvos o deputado estadual licenciado Rodrigo Bacellar (União Brasil), afastado da presidência da Alerj, e um assessor. Ao todo, a Polícia Federal cumpre dez mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, todos expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O caso chama atenção não apenas pela gravidade das suspeitas, mas pelo currículo do magistrado. Júdice Neto iniciou a carreira como juiz federal em 1993, mas passou cerca de 18 anos afastado da magistratura por investigações relacionadas a possíveis irregularidades no exercício do cargo. Em 2022, após revisão do processo pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), foi reintegrado à Justiça Federal. No ano seguinte, em 2023, foi promovido a desembargador — uma ascensão rápida para quem havia passado quase duas décadas fora da função.
Segundo o Portal da Transparência do TRF-2, o desembargador recebia remuneração mensal de cerca de R$ 90 mil em novembro de 2025. Com adicionais, indenizações e gratificações, os créditos chegaram a R$ 125 mil, resultando em um valor líquido de R$ 80.580,06 no mês.
A investigação que envolve TH Jóias apura a relação entre agentes públicos e facções criminosas no Rio de Janeiro. Além do ex-deputado, preso em setembro, outras 14 pessoas também foram detidas.
No rigor do legalismo, o caso segue sob apuração, com direito à ampla defesa e ao contraditório. Mas a ironia institucional é inevitável: após 18 anos afastado, reintegrado e promovido, a Justiça agora volta seus olhos para quem, em tese, deveria zelar por ela — lembrando que nem a toga é invisível às mãos da lei.
Fonte: Revista40graus, mídias, PF, STF e colaboradores
