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Ex-chefe da FAB reafirma ao STF reunião golpista, ameaça de prisão a Bolsonaro

Brigadeiro Baptista Júnior presta depoimento ao Supremo sobre a trama golpista nesta quarta-feira
Redação

O ex-chefe da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Júnior confirmou nesta quarta-feira (21), em depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal), que o general Freire Gomes comunicou em 2022 ao então presidente Jair Bolsonaro (PL) que teria de prendê-lo caso avançasse com planos golpistas contra a eleição de Lula (PT).

"Confirmo sim, senhor. Acompanhei anteontem a repercussão [do depoimento de Freire Gomes], estava chegando de viagem. Freire Gomes é uma pessoa polida e educada, não falou com agressividade, ele não faria isso. Mas é isso que ele falou. Com muita tranquilidade, calma, mas colocou exatamente isso. ‘Se fizer isso, vou ter que te prender’", disse.

Baptista Júnior diz que não viu discordância entre o que ele disse em depoimento e o que relatou o próprio general Freire Gomes, ex-chefe do Exército, ao STF na segunda-feira (19).

Foto: Marcelo Camargo - 10.jul.19/Agência BrasilO tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, que comandou a Aeronáutica no governo Bolsonaro
O tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, que comandou a Aeronáutica no governo Bolsonaro

O ex-comandante do Exército afirmou que não ameaçou Bolsonaro nem deu ordem de prisão. Declarou que somente indicou a Bolsonaro que ele poderia ser "enquadrado juridicamente" caso adotasse uma medida ilegal. E que o Exército "não iria atuar em algo que iria extrapolar nossa competência constitucional".

Na versão de Baptista Júnior, os relatos dos dois ex-chefes militares não são contraditórios porque, disse, não houve ameaça ou voz de prisão, mas um comunicado sobre os impactos jurídicos de eventual tentativa de golpe de Estado.

O brigadeiro Baptista Júnior foi escolhido por Bolsonaro para comandar a Aeronáutica após uma crise militar. Os chefes das Forças Armadas decidiram deixar os cargos em 2021 após o então presidente demitir o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, alegando falta de apoio dos militares à sua atuação na pandemia, marcada por desafios às autoridades sanitárias.

Por sua participação nas redes sociais, Baptista Júnior acabou sendo conhecido como o mais bolsonarista dos comandantes das Forças. A imagem mudou após ele dar detalhes à Polícia Federal sobre as intenções golpistas de Bolsonaro e aliados no fim de 2022.

O depoimento dele, além do de Freire Gomes, foi uma das bases da denúncia no ponto sobre a chamada "minuta do golpe". O documento teria sido apresentado aos chefes das Forças Armadas em busca de adesão em ao menos duas reuniões —em 7 de dezembro de 2022, pelo próprio Bolsonaro, e em 14 de dezembro, pelo ministro da Defesa, o general da reserva Paulo Sérgio Nogueira.

O termo do depoimento de Baptista Júnior à Polícia Federal incluiu trecho em que ele relata que, em uma das reuniões dos comandantes das Forças com o então presidente da República, após o segundo turno das eleições, Freire Gomes chegou a alertar Bolsonaro que poderia prendê-lo se desse início aos planos golpistas.

"[Depois de Bolsonaro] aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de algum instituto previsto na Constituição (GLO ou estado de defesa ou estado de sítio), o então comandante do Exército, General Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República".

A respeito da própria postura, Baptista Junior disse à PF que deixou "claro ao então presidente Jair Bolsonaro que não aceitaria qualquer tentativa de ruptura institucional para mantê-lo no poder; que a Aeronáutica não apoiaria qualquer tentativa de manutenção no poder do então presidente da República no poder, após 1° de janeiro de 2023".

Marinha

O ex-comandante da Aeronáutica reafirmou ao STF nesta quarta-feira o que havia dito à PF sobre o ex-chefe da Marinha, almirante Almir Garnier Santos.

Segundo Baptista Junior, Garnier não estava alinhado com ele e Freire Gomes. "Infelizmente, uma vez falei a ele que nada pode ser tão pior para as Forças Armadas que não ter uma postura de consenso, e, talvez isso tenha sido o mais difícil, o almirante Garnier não estava na mesma postura que Freire Gomes e eu", disse.

Ao detalhar esse entendimento, o brigadeiro descreve o momento em que o colega teria dito que colocava as tropas da Marinha à disposição de Bolsonaro.

"Em uma dessas reuniões, eu tenho uma visão muito passiva do almirante. Eu lembro que o ministro Paulo Sérgio e eu conversávamos mais, debatíamos mais, tentávamos demover mais o presidente. Em uma dessas reuniões, chegou o ponto em que ele falou que as tropas da Marinha estariam à disposição do presidente Bolsonaro", disse.

Em seguida, o ex-chefe da FAB afirmou que esteve em uma reunião em que foi apresentada a chamada minuta golpista e ele teria se recusado a permanecer no local, mas que Garnier teria se mantido calado.

"O ministro Paulo Sérgio disse que 'trouxe aqui um documento para vocês verem e para vocês analisarem'. Eu logicamente perguntei a ele se estava na mesa, em um plástico, um documento que previa a não a assunção do presidente eleito. Eu falei: 'não admito sequer receber este documento, não ficarei aqui'. [...] Eu tinha um ponto de corte. Eu tinha muito respeito pelos meus colegas. Mas eu tinha um ponto de corte que era no dia 1° de janeiro. [...] O general Freire Gomes também condenou a possibilidade de avaliarmos aquilo. O Garnier não falou nada e eu saí da sala não sei mais o que houve."

O brigadeiro Baptista Júnior iria depor ao Supremo no mesmo dia que Freire Gomes. O ex-chefe da Aeronáutica, porém, pediu o adiamento da audiência porque estava fora do país.

 

Fonte: Revista40graus e colaboradores

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