Até 90% dos feminicídios no Piauí ocorrem no 1º ano da separação, diz delegada
Medidas precisam ser tomadas e a conscientização tambémA delegada e diretora de Avaliação de Risco da Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP-PI), Eugênia Villa, destacou a relação direta entre o período pós-término de um relacionamento e a ocorrência de feminicídios. Segundo ela, a maioria dos casos acontece no primeiro ano após a separação.

“Entre 88 até 90% dos feminicídios ocorreram no primeiro ano após o fim de um relacionamento e isso é muito expressivo. A separação de um relacionamento é realmente um fator que pode vir a acelerar o feminicídio”, ressaltou.
Eugênia reforçou que as medidas protetivas de urgência têm papel fundamental na prevenção. “As medidas protetivas de urgência elas evitam, sim, o feminicídio. Essas mulheres estão morrendo, na rubrica do feminicídio, a maior parte, 88% aqui no Piauí, porque não registraram nenhum BO e isso quer dizer que não entrou na nossa conta de proteção. Então 12% morreu. Agora eu afirmo que as mulheres que nos procuram e que têm medida protetiva no Piauí estão sim se salvando”, afirmou.
Ela também citou uma pesquisa realizada pelo Banco Mundial, em parceria com universidades do Canadá e do Brasil, que analisou a presença de delegacias especializadas.
“O Banco Mundial realizou uma pesquisa com a universidade do Canadá e também uma universidade brasileira e constataram que reduz [o crime] de 12 a 15% a presença de uma delegacia da mulher, mas não na mesma proporção em relação às mulheres negras e isso tem várias possibilidades. Primeiro porque uma mulher negra pode ter mais dificuldade de chegar até uma delegacia, um atendimento especializado, o nível de instrução, a renda familiar. Mas não é só a presença da delegacia da mulher, temos que avaliar que tem a rede inteira que protege essa mulher, então precisamos avaliar mais esse estudo”, destacou.
Para a delegada, é necessário compreender os fatores que dificultam o acesso das mulheres, especialmente as negras, aos serviços de proteção.
“O Piauí é pioneiro em muitos protocolos, agora o que nós precisamos entender é porque mulheres não nos procuram, o que que nós temos que as mulheres não estão nos procurando, é porque somos delegadas não negras? É porque o tratamento dispensado pela polícia, aos seus agressores, homens negros, elas não confiam na polícia? Nós temos que fazer inúmeras perguntas e eu falo isso com base em pesquisas que demonstram o racismo institucional. Então são muitas questões que precisam ser respondidas porque uma mulher negra ela tem que ter representatividade e tudo isso tem que ser diagnosticado”, concluiu.
Fonte: Revista40graus e colaboradores