Justiça condena viúva de policial e contador por esquema de agiotagem milionária
Decisão ainda cabe recursoA 1ª Vara Criminal de Teresina condenou Olívia Tangneth, viúva do cabo da Polícia Militar Agnaldo José, e o contador José de Jesus por crimes de usura (agiotagem), gestão fraudulenta de entidade beneficente, lavagem de dinheiro e associação criminosa. A sentença, assinada pelo juiz Caio Cézar Carvalho de Araújo em 10 de setembro de 2025, detalha um esquema que movimentou milhões de reais em prejuízo a servidores públicos estaduais.

Segundo a decisão, Olívia e Agnaldo, já falecido, comandavam um esquema de empréstimos a juros extorsivos, que chegavam a variar de 20% a 75% ao mês. Para disfarçar a cobrança ilegal, o grupo utilizava duas associações beneficentes, a Associação Beneficente dos Cabos e Soldados da Polícia Militar do Piauí (ABECS-PI) e a Associação Beneficente das Esposas dos Reformados e Pensionistas da Polícia Militar do Piauí (ABRESPPOM-PI) como fachada. Os descontos eram feitos diretamente nos contracheques das vítimas sob a rubrica de “contribuição associativa”.
A investigação apontou que, entre 2012 e 2017, mais de R$ 4,3 milhões foram sacados das contas da ABRESPPOM por Olívia. Já a ABECS transferiu mais de R$ 2,3 milhões para a conta pessoal de Agnaldo. O contador José de Jesus foi considerado peça-chave na criação da ABRESPPOM e na manipulação contábil que permitiu a lavagem do dinheiro obtido com a agiotagem.
Durante o processo, testemunhas relataram a cobrança de juros abusivos e a camuflagem dos descontos em contracheques. Uma das vítimas contou que, em setembro de 2016, pegou um empréstimo de R$ 800 junto à ABRESPPOM-PI, com Olívia, e no mês seguinte teve R$ 1.057 descontados em seu contracheque, o equivalente a juros de 75% ao mês.
Uma ex-secretária da ABECS afirmou que cerca de 95% das pessoas que procuravam as entidades buscavam apenas empréstimos em dinheiro e revelou ter sofrido pressões para alterar seu depoimento.
O juiz destacou na sentença que a ré se aproveitou da estrutura de associações com fins assistenciais para explorar servidores em dificuldades financeiras. Olívia foi condenada a 12 anos e 10 meses de reclusão e 8 anos e 1 mês de detenção, além de 1.000 dias-multa, em regime inicial fechado. José de Jesus recebeu pena de 8 anos e 6 meses de reclusão, também em regime fechado, e 250 dias-multa.
Como parte da decisão, a Justiça determinou a prisão preventiva dos condenados. O magistrado ressaltou que os crimes causaram “profundo abalo à ordem econômica e social”, desvirtuando a finalidade das entidades beneficentes e abalando a confiança pública.
Agnaldo José, apontado como um dos líderes do esquema, teve a punibilidade extinta em 2019 devido ao seu falecimento.
Fonte: Revista40graus e colaboradores