Motta suspende democracia ao vivo: protesto vira caso de polícia enquanto bolsonaristas fogem do plenário
Presidente da Câmara barra imprensa e usa força contra Glauber, mas mantém cuidado maternal com foragidos da direitaTirar a democracia da tomada virou rotina no plenário. Ao pautar a cassação de Glauber Braga — enquanto os processos de bolsonaristas foragidos seguem no modo “em breve” — o presidente da Câmara, Hugo Motta, mostrou que o colégio de líderes agora funciona como balcão: pauta-se quem está presente, mas se protege quem está passeando pela Itália ou pelos Estados Unidos.
Glauber reagiu ocupando a cadeira de Motta, um gesto simbólico que interrompeu a sessão e, claro, a transmissão. Afinal, democracia sem registro histórico é bem mais fácil de administrar. A polícia legislativa entrou em cena como se o deputado fosse um bolsonarista armado, e não alguém sentado numa cadeira. Resultado: parlamentar retirado à força, jornalistas expulsos e câmeras desligadas — a transparência ficou para outro dia.
Só os deputados testemunharam a cena, gravada em celulares. O plenário virou uma versão institucional do empurra-empurra da extrema-direita, aquela que há pouco tempo sequestrou a Mesa e saiu ilesa, sem policial, sem corte de microfone e com Motta oferecendo “diálogo”, como Glauber lembrou depois da expulsão.
Nos corredores, a confusão seguiu com agressões a parlamentares e imprensa. Glauber saiu de lá direto para exame de corpo de delito, enquanto sua esposa, a deputada Sâmia Bomfim, chorava no salão verde. A cassação dele será votada junto das de Carla Zambelli e Alexandre Ramagem — ambos condenados e convenientemente ausentes. Motta já havia anunciado que eles teriam essa comodidade logística.
Glauber afirma que só ele está sendo punido. Os outros, que participaram de um motim real contra a democracia, continuam com direitos políticos e passaporte carimbado. Mas, segundo Motta, o problema é “quem ousa desrespeitar a instituição” — aparentemente, sentar em uma cadeira é mais grave que atacar a Constituição.
Aliados admitem que o gesto de Glauber pode acelerar a cassação, enquanto deputados de esquerda criticam o método, ironicamente o mesmo usado pela tropa bolsonarista que Motta jamais puniu. A diferença? Um lado ainda está dentro do país.
Quando questionado sobre quem mandou cortar a transmissão e expulsar a imprensa, o presidente da Câmara optou pela política do silêncio — algo que ele não aplica quando o assunto é reduzir penas para Bolsonaro e seus cúmplices de 8 de janeiro, projeto que, apesar do caos, ele fez questão de manter na pauta.
Associações de imprensa denunciaram o cerceamento e lembraram timidamente que “liberdade de imprensa existe”. A resposta de Motta? Um post nas redes dizendo que mandará apurar “excessos” — mas não os próprios.
Segundo parlamentares, houve agressões a Glauber, Sâmia, Rogério Correia e Célia Xakriabá. Quando o deputado Dorinaldo Malafaia acusou Motta diretamente, teve o microfone cortado. Mais democrático impossível.
No fim da tarde, Motta reabriu a sessão “normalmente”, como se empurrões, censura e expulsão fossem parte do Regimento Interno. A direita aplaudiu, enquanto a esquerda protestou — cena repetida, mas agora com corte de câmera.
Glauber diz que está sendo perseguido por ter enfrentado o “todo-poderoso” Arthur Lira, denunciado o orçamento secreto e defendido a memória da própria mãe, alvo de ataque de um militante do MBL. Já o Conselho de Ética preferiu a versão resumida: ele chutou, logo deve ser cassado.
Ao final, Lindbergh Farias tentou mediar, criticou Motta por nunca ter punido o motim bolsonarista e defendeu que a esquerda não reproduza o método. A ironia é que o método virou regra. A diferença é só quem está sentado na cadeira — e quem controla o interruptor da transmissão.
Fonte: Revista40graus, redes sociais, mídias e colaboradores
