Quando o silêncio fala alto: a matemática criativa da bancada piauiense
Na hora de cassar mandato, alguns deputados do Piauí preferiram não votar — e um ainda votou contraA Câmara dos Deputados passou a quarta-feira (10) testando os limites da paciência nacional ao analisar as punições disciplinares de Carla Zambelli e Glauber Braga. No caso de Zambelli — condenada definitivamente pelo STF e atualmente presa na Itália — a cassação foi rejeitada por falta de votos. E entre os piauienses, apenas um teve coragem de ir contra a cassação: exatamente ele, Júlio César (PSD), sempre disposto a mostrar que coerência política é um conceito bem flexível.
Foram 227 votos a favor da perda do mandato, 110 contra e 10 abstenções. Para cassar, eram necessários 257. Mas a aritmética do plenário mostrou que, quando o assunto é responsabilidade parlamentar, a conta simplesmente não fecha.
A CCJ havia recomendado a cassação com base no óbvio ululante: é impossível exercer mandato enquanto se cumpre pena em regime fechado. Mas nada como uma votação em plenário para transformar o óbvio em opcional.
Como votou a bancada do Piauí no caso de Carla Zambelli
A favor da cassação
Dr. Francisco (PT)
Flávio Nogueira (PT)
Florentino Neto (PT)
Merlong Solano (PT)
Jadyel Alencar (Republicanos)
Contra a cassação
Júlio César (PSD), em seu momento “deixa como está para ver como é que fica”.
E quanto aos demais piauienses que poderiam ter contribuído para formar os 257 votos necessários? Pois é. Alguns simplesmente não votaram ou se abstiveram — aquela velha técnica parlamentar de “não me comprometa, mas também não conte comigo”.
No caso de Glauber Braga (PSOL-RJ), acusado de expulsar a pontapés um integrante do MBL, a Câmara decidiu por uma suspensão de seis meses — uma solução intermediária para quem quis mostrar rigor, mas não muito. A emenda alternativa do PT foi aprovada por 318 votos a 141.
Como votaram os piauienses no caso de Glauber Braga
A favor da suspensão
Elmano Férrer (PP)
Dr. Francisco (PT)
Flávio Nogueira (PT)
Florentino Neto (PT)
Merlong Solano (PT)
Jadyel Alencar (Republicanos)
No fim das contas, a noite serviu para reforçar uma velha lição: em Brasília, voto é poder — e ausência também. E quando um parlamentar vota contra a cassação de alguém preso no exterior, convenhamos, o problema não está na lei. Está no zelo com o mandato. Ou na falta dele.
Fonte: Revista40graus, Câmara dos Deputados, mídias e colaboradores
