Trump fecha o caixão da Operação Eduardo
Ídolo do clã livra Moraes da Magnitsky e transforma pressão externa em vexame domésticoNuma dessas ironias refinadas da política, coube justamente ao herói de estimação do bolsonarismo bater o martelo final — e fechar o caixão — da estratégia internacional da família Bolsonaro. Ao livrar Alexandre de Moraes da Lei Magnitsky, Donald Trump sepultou a chamada “Operação Eduardo”, aquela excursão diplomática que prometia salvar o patriarca da cadeia e terminou como turismo político de alto custo.
Quando ficou claro que Jair Bolsonaro seria condenado pela trama golpista de 2022, a família decidiu apostar tudo na geopolítica de improviso. Eduardo Bolsonaro foi despachado aos Estados Unidos com a missão de convencer Washington de que o Brasil vivia uma “ditadura tropical”, onde Judiciário e Executivo seriam uma coisa só — convenientemente inimiga da direita.
Com apoio das franjas mais barulhentas do trumpismo, Eduardo conseguiu audiência e vendeu o enredo: Bolsonaro seria vítima do mesmo “lawfare” que Trump. A solução? Pressão econômica, sanções comerciais e um empurrãozinho externo para dobrar o STF. Um plano ousado — e profundamente desconectado da realidade institucional brasileira.
O resultado veio rápido: guerra comercial, cartas com digitais explícitas, sanções com endereço certo e a exigência nada sutil de “Bolsonaro livre”. O bolsonarismo entrou em êxtase nas redes, celebrando a punição ao Brasil como se fosse troféu patriótico. Bandeiras americanas tremularam com orgulho em pleno 7 de Setembro.
Mas a política, como sempre, cobra a fatura. O Itamaraty, empresários e Geraldo Alckmin trataram de reabrir canais, Lula conversou com Trump, o clima mudou e as sanções começaram a murchar. Até que, nesta sexta-feira (12), veio o golpe final: a suspensão da Magnitsky contra Moraes — e sua esposa.
Fim de jogo. A operação que prometia libertar Bolsonaro terminou libertando Moraes do castigo simbólico. Todo o esforço do deputado diligente pode agora render apenas processos judiciais por coação internacional e, no limite, a ameaça de cassação de mandato — ironias adicionais no pacote.
Para o clã, o “timing” não poderia ser pior. Com Bolsonaro preso e a candidatura de Flávio lançada às pressas, a direita que ensaiava migrar para Tarcísio de Freitas perdeu o roteiro. Mais um pedaço da propaganda eleitoral foi jogado ao mar — curiosamente pelo mesmo personagem que inspirou o movimento que chegou ao poder em 2019.
No fim, Lula até colhe dividendos simbólicos, embora as pesquisas indiquem que o efeito já esteja precificado. O saldo real, porém, é dos Bolsonaros: ficaram com a pecha de sabotadores da própria pátria e nem a vingança pessoal contra Moraes conseguiram sustentar.
A Operação Eduardo acabou como começou: barulhenta, internacionalizada e, no final, absolutamente ineficaz.
Fonte: Revista40graus e colaboradores
