CPI do Lixo: quando os fiscais do passado tentam fiscalizar o presente
Comissão que reúne herdeiros da gestão anterior tropeça entre renúncias, documentos negados e medo do espelho.CPI do Lixo: a investigação que todos juram querer… desde que não mexa demais no próprio passado
Se Teresina esperava uma CPI do Lixo capaz de limpar alguma coisa além do plenário, talvez seja melhor sentar — de preferência longe de qualquer saco de resíduos, porque a montanha política anda bem instável. A comissão, formada em boa parte por figuras que passaram direta ou indiretamente pela gestão que gerou o problema, tenta investigar irregularidades no lixo enquanto desvia dos espelhos como quem foge de buraco na rua. Medo de quê? Do cheiro? Ou de descobrir que algumas digitais já estavam ali antes mesmo da CPI começar?
A renúncia do presidente Fernando Lima (PDT) virou o ponto alto da ópera. Ele não só pulou fora da cadeira de comando, como fez questão de deixar claro que relatório não assina — nem sob pressão. Afinal, segundo ele, o documento aprovado pelos outros três membros simplesmente não bate com o que foi dito nas oitivas. E a narrativa? Bem, essa ficou tão desencontrada quanto contrato emergencial atrás de contrato emergencial.
Fernando ainda lembra que duas oitivas foram “fundamentais” para expor discrepâncias gritantes, como o valor da tonelada de resíduo inerte que, em outras capitais, custa R$ 56, mas aqui milagrosamente triplicou para algo perto de R$ 159. A matemática do lixo realmente merece um curso à parte — talvez com certificado de coragem ao final.
E aí entra o capítulo mais saboroso: segundo o relator Deolindo Moura (PT), a CPI não é para “caçar bruxas”, mas para apontar soluções. Ótimo. Soluções, inclusive, que a própria prefeitura teria dificultado ao — veja só — se negar a entregar documentos requisitados pela CPI. Uma CPI que, teoricamente, tem força constitucional de requisição. Mas em Teresina parece que o princípio da publicidade virou opcional, tipo tempero de comida.
Fica então a pergunta:
como funciona uma CPI quando quem deveria ser investigado não entrega documentos e quando boa parte dos investigadores participou, com maior ou menor protagonismo, da administração que gerou o pepino?
Do jeito que está, parece mais prova de resistência do que investigação.
Enquanto isso, a população — aquela que paga a conta do lixo supostamente superfaturado, do serviço capengando e das licitações emergenciais eternas — continua à margem, esperando que, desta vez, a CPI sirva para algo além de um relatório que uns assinam, outros recusam e que, na prática, só reforça a sensação de que a montanha pariu um saco plástico vazio.
No fim, Deolindo diz que a CPI deve apontar soluções. Perfeito. Mas a solução começa como?
Com renúncia, divergência, prefeitura que não manda documentos e uma comissão formada em boa parte por quem viu, viveu ou participou — de dentro ou de perto — da tal gestão que agora é investigada?
Se isso é uma CPI, é também um lembrete de como ela deveria ser:
independente, transparente, firme — e sem medo de cutucar o passado. Inclusive o de quem está sentado na mesa.
Afinal, limpeza urbana se faz com vassoura, mas limpeza política exige coragem. E essa, pelo visto, ainda está em falta no estoque.
Relembre o nome de todos os membros da CPI:
Presidente: Fernando Lima (PDT)
Relator: Deolindo Moura (PT) participou com indicações na gestão Pessoa na Fundação Wall Ferraz
Membros: Draga Alana (PSD) ex-secretário da SEMEL gestão Pessoa, Luís André (PL) ex-secretário do Meio-Ambiente (SEMAN) gestão Pessoa e James Guerra (Avante) ex-superintendente da SAAD-Leste e ex-secretário da SEMDUH gestora dos contratos na gestão Pessoa
Suplentes: Venâncio Cardoso (PT) e Samantha Cavalca (Progressistas)
Membros titulares da CPI do Lixo de Teresina além do presidente e relator:
