Brasileira Juliana Marins é encontrada morta na Indonésia quatro dias após cair
Família informou que a turista de Niterói (RJ) não resistiu aos dias de espera
RedaçãoA brasileira Juliana Marins, 26, foi encontrada morta pelas equipes de busca, nesta terça-feira (24), após quatro dias isolada na trilha do vulcão Rinjani, na Indonésia, segundo a família. A turista estava presa em um penhasco rochoso.
"Hoje, a equipe de resgate conseguiu chegar até o local onde Juliana Marins estava. Com imensa tristeza, informamos que ela não resistiu. Seguimos muito gratos por todas as orações, mensagens de carinho e apoio que temos recebido", informou a família no perfil destinado às informações das buscas.
Ao todo, 48 pessoas de diversos órgãos estavam envolvidas na operação de resgate da turista brasileira. Mais cedo, nesta terça, foi tentado novamente o uso de um helicóptero, mas condições climáticas impediram a chegada até ela.
O drama de Juliana começou na sexta-feira (20), depois de ela cair durante a trilha que fazia para chegar até o cume do vulcão Rinjani, na ilha de Lombok. Segundo a família, ela teria relatado que estava cansada durante o trajeto –que levaria três dias–, e o guia teria dito para ela descansar enquanto o grupo seguiu caminhando. Sozinha, a turista teria caído em um local íngreme, de difícil acesso.
Em um primeiro momento, foi divulgado que a brasileira já estaria recebendo agasalhos e alimento. Um drone fez imagens dela. Poucas horas depois, porém, a história teve uma reviravolta. A família afirmou à Folha que Juliana estava sem nenhum tipo de apoio, teria saído do local onde havia sido avistada e estava desaparecida. Os parentes criticaram também a demora no resgate.
As equipes de busca foram reforçadas após as críticas da família. Os governos da Indonésia e do Brasil se mobilizaram e anunciaram ações para tentar salvar a brasileira. O resgate gerou comoção nas redes sociais.
Apenas nesta segunda-feira (23), Juliana foi localizada com ajuda de um drone térmico. Ela estava presa em um penhasco rochoso e visualmente imóvel, de acordo com a direção do parque onde fica a trilha. O local era de difícil acesso tanto para alpinistas quanto por helicóptero, e as buscas tiveram de ser paralisadas diversas vezes por conta do tempo ruim.
Nesta terça-feira (24), durante a manhã no horário local, as atividades ficaram concentradas na descida direta até onde Juliana está, utilizando técnicas de resgate vertical, embora o terreno e o clima do penhasco ainda representem grandes desafios.
No período da tarde (no horário da Indonésia), sete socorristas conseguiram se aproximar do local, mas tiveram que parar e acampar devido ao anoitecer.
O parque também anunciou nesta terça que a rota para o cume do vulcão foi temporariamente fechada para agilizar a operação de resgate.
"Pedimos a compreensão e cooperação de todas as partes para o bom andamento desse esforço humanitário" , diz o informe sobre o fechamento.
Segundo informações da família de Juliana, havia muitas autoridades presentes na região em que estão concentradas as equipes, "reforçando a urgência e o compromisso no resgate".
Segundo o site do Jakarta Globe, publicação local, três helicópteros com capacidade de transporte aéreo e evacuação médica tinham sido preparados para o resgate, considerado de alto risco.
Um dos helicópteros é das Forças Armadas e da agência nacional de busca e salvamento. Um segundo helicóptero, de resgate médico, foi providenciado pelo seguro contratado por Juliana, estava de prontidão. Uma terceira aeronave, de propriedade da mineradora Amman Mineral Nusa Tenggara, estava de prontidão, de acordo com a publicação.
Juliana era publicitária natural de Niterói, no Rio de Janeiro. Pelas redes sociais, onde tem mais de 20 mil seguidores, costumava publicar fotos e vídeos curtos de registros feitos durante alguns destinos, dentre eles a própria Indonésia, Tailândia, Vietnã e Filipinas.
A jovem, que segundo perfil no LinkedIn já trabalhou em empresas do Grupo Globo como Multishow e Canal Off, foi formada em Comunicação pela UFRJ e fez cursos de fotografia, roteiro e direção de cinema.
Manoel Marins Filho, pai de Juliana, está a caminho da Indonésia. Ele embarcou de Lisboa, capital portuguesa, para Bali ainda sem saber que a filha foi localizada sem vida. Ele deve desembarcar no país asiático por volta das 16h (horário de Brasília).
O governo brasileiro lamentou a morte da turista.
"A embaixada do Brasil em Jacarta mobilizou as autoridades locais, no mais alto nível, para a tarefa de resgate e vinha acompanhando os trabalhos de busca desde a noite de sexta-feira, quando foi informada da queda no Mount Rinjani", disse o Itamaraty em nota.
"O governo brasileiro transmite suas condolências aos familiares e amigos da turista brasileira pela imensa perda nesse trágico acidente", acrescentou.
A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, lamentou a morte da turista em publicação no Instagram.
"Quando uma mulher tão jovem, de espírito livre e sorriso largo, como Juliana, nos deixa, fica toda a tristeza de momentos não vividos. Mas também reverbera em nós a inspiração por toda a força e coragem que ela teve de realizar seus sonhos e viver com entusiasmo. Deixo aqui todo o meu afeto e solidariedade para a família e os amigos de Juliana. Que Deus conforte seus corações e que o brilho dela siga os acompanhando sempre" , escreveu.
TRILHA É CONSIDERADA DIFÍCIL
A trilha seguida por Juliana até o vulcão Rinjani é uma das mais populares do país asiático. A 3.726 metros de altitude, o monte está localizado na ilha de Lombok e é o segundo maior do país.
O trajeto até o cume do vulcão pode levar até quatro dias, segundo informações do Parque Nacional do Monte Rinjani e de agências de montanhismo locais.
A publicitária iniciou o trajeto na sexta-feira (20), quando caiu a cerca de 300 metros da trilha. Ela faria a escalada até domingo.
A vista de cima do vulcão Rinjani é uma das principais atrações do Parque Nacional do Monte Rinjani, área preservada de 41 mil hectares que atrai turistas de todo o mundo. Dentro do monte, a caldeira do vulcão, com mais de 50 quilômetros quadrados, guarda o lago Segara Anak, uma fonte termal natural.
É possível chegar ao local por duas cidades, Senaru e Sembalum.
Para fazer a trilha, os visitantes precisam de um alto nível de preparo físico, diz o parque, acrescentando, em sua página oficial, que visitantes já morreram por não seguirem as recomendações e preparos sugeridos.
Normalmente, a escalada até o entorno da cratera dura dois dias e uma noite —trajeto que seria feito por Juliana—, mas também é possível fazer a caminhada com até quatro dias e duas ou três noites de duração.
Agências locais oferecem o serviço de guia para grupos de diferentes tamanhos. Durante o trajeto, há postos na região para descanso e alimentação. A brasileira teria contratado uma empresa local chamada Ryan Tour.
O parque ainda recomenda que o trajeto seja feito com guias certificados. Quem preferir pode alugar equipamentos em um dos centros disponíveis aos arredores da montanha —nesses casos, o viajante precisa assinar um termo de responsabilidade.
Ainda na página oficial, o Parque Nacional do Monte Rinjani diz que a HPI (Associação de Guias Licenciados, em português) emite certificação para os guias do Monte Rinjani, no entanto, ressalta que o padrão de certificação e o treinamento exigido para os profissionais locais não são tão rigorosos quanto outros países.
"Acidentes graves, incluindo fatalidades, ocorrem em trilhas no Rinjani conduzidas por esses guias" , completa.
Para a escalada, são sugeridas botas, jaquetas impermeáveis e lanterna para cabeça. Para quem pretende alcançar o topo do vulcão, o parque aconselha utilizar bastões de caminhada.
Por causa da altitude e variações de umidade no local, a temperatura durante o trajeto da trilha pode chegar a 4ºC.
Nas redes sociais, montanhistas e entusiastas relatam dificuldade para acessar o topo do monte. Parte relata dificuldades causados pela poeira, especialmente nos meses de junho e agosto, e pelo trajeto escorregadio na subida.
O último registro de erupção do vulcão é de 2010, segundo informações do Parque Nacional do Monte Rinjani.