Derrota na Província de Buenos Aires preocupa governo de Milei
O presidente argentino entendeu o recado dos eleitores, a pouco mais de um mês das eleições
A derrota do partido governista A Liberdade Avança nas eleições de domingo na Província de Buenos Aires (PBA) acendeu um alerta para o presidente Javier Milei, a pouco mais de um mês das eleições para o Congresso argentino
A província, que reúne 40% do eleitorado nacional, tende tradicionalmente à esquerda, mas a derrota por mais de 13 pontos percentuais indica um forte descontentamento do eleitorado e uma dificuldade do partido do governo de mobilizar os eleitores, sobretudo no interior do país, em contraste com a robusta máquina peronista.
O movimento liderado pelo governador da província, Axel Kicillof, que desponta como o principal líder da oposição, venceu em 99 dos 135 municípios da província. As eleições foram para os cargos de senadores e deputados provinciais e vereadores municipais.
Na eleição presidencial de 2023, Milei perdeu para o peronista Sergio Massa na PBA por 17 pontos percentuais no primeiro turno, mas encostou no adversário no segundo, sendo derrotado por apenas 1,5 ponto percentual. No nível nacional, Milei venceu Massa por mais de 11 pontos no segundo turno.
“Sem dúvida, no plano político, hoje tivemos uma derrota clara. E se alguém quiser começar a reconstruir e seguir em frente, a primeira coisa a aceitar são os resultados, e hoje os resultados não foram positivos e tivemos um revés eleitoral e devemos aceitá-lo."
Não é pouca coisa, para o integrante de uma corrente cujos líderes nos Estados Unidos e no Brasil, por exemplo, sequer aceitam as próprias derrotas eleitorais.
Governadores e prefeitos se queixam de que o presidente não os ouve. Mesmo com a polarização, a tradição política na Argentina é o presidente atuar em colaboração com os governadores de oposição, que exercem forte influência sobre as bancadas e os eleitores provinciais, assim como os prefeitos.
Os orçamentos das províncias dependem do governo central e em geral governadores de oposição e presidentes firmam acordos que facilitam a governabilidade. Milei tem uma maioria muito estreita e instável na Câmara e no Senado, e espera ampliá-la nas eleições de outubro e novembro para o Congresso.
Um escândalo de corrupção investigado pelo Ministério Público, que envolve a irmã de Milei, Karina, secretária-geral da Presidência, pode ter contribuído para a derrota. Ela é acusada de desviar 8% dos valores da compra de medicamentos pela agência do governo para pessoas com deficiência.
Milei fez campanha acusando os peronistas de corrupção e prometendo uma limpeza ética no governo. A ex-vice-presidente Cristina Kirchner está sob prisão domiciliar por desvio de dinheiro de contratos públicos.
O presidente argentino conduz um forte ajuste fiscal, combinado com um aperto monetário, que freou a hiperinflação e trouxe estabilidade, mas manteve o custo de vida em um patamar muito elevado.
Cansados da fórmula anterior, de gastos públicos muito acima da arrecadação e hiperinflação, os argentinos se mostram dispostos a fazer sacrifícios, mas deixaram claro que querem ver uma luz no fim do túnel e rejeitam excessos e arrogância.