Soldados da Guarda Nacional chegam a Los Angeles em meio a tensão de protestos

Trump usa medida rara para combater manifestações contra operações anti-imigração que crescem
Redação

Os 2.000 soldados da Guarda Nacional enviados pelo governo de Donald Trump começaram a chegar a Los Angeles neste domingo (8) para conter os protestos contra as operações anti-imigração na cidade.

Foto: REUTERS
Manifestante em cima de carro com a bandeira do México

Trump fez uso de sua prerrogativa e assumiu o controle das forças de segurança do estado da Califórnia para mobilizar soldados na segunda maior cidade do país —uma medida inédita nas últimas décadas e considerada "deliberadamente provocadora" pelo governador Gavin Newsom, do Partido Democrata.

Soldados com capacetes, armas automáticas e veículos camuflados foram vistos no bairro de Compton, em Los Angeles, nas primeiras horas do domingo, como precaução diante de novas manifestações. Uma "mobilização massiva" contra as batidas migratórias foi convocada em frente à prefeitura durante a tarde (18h no horário de Brasília).

Continue lendo após a publicidade
Foto: Mike Blake - 8.jun.25/Reuters
Membros da Guarda Nacional diante de prédio federal em Los Angeles, depois de acionados pelo governo Trump para conter protestos na cidade da Califórnia

Nos últimos dois dias, agentes federais lançaram bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo contra uma multidão que protestava contra a prisão de dezenas de migrantes em uma cidade com forte presença latina.

Além de Trump, outros membros do Partido Republicano ignoraram os alertas de governador Newsom e de outros líderes democratas locais de que a repressão poderia agravar as tensões. Membros dos dois partidos trocaram farpas neste domingo.

"Não estou nem um pouco preocupado", disse o presidente republicano da Câmara, Mike Johnson, ao programa "This Week", da ABC, ao ser questionado sobre o tema. Ele afirmou que Newsom "demonstrou incapacidade ou falta de vontade, o que motivou a intervenção do presidente".

Foto: Daniel Cole - 8.jun.2025/REUTERS
Manifestantes sobem em carro destruído em Compton, na Califórnia

Johnson também apoiou a possibilidade de acionar fuzileiros navais da ativa, além da Guarda Nacional — hipótese cogitada no sábado pelo secretário de Defesa, Pete Hegseth. "Precisamos estar preparados para fazer o que for necessário", argumentou.

Em posts na Truth Social, Trump disse que o governador da Califórnia e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, "não conseguem fazer seus trabalhos" e, por isso, o governo "intervirá e resolverá o problema, TUMULTUADORES E SAQUEADORES, da maneira como deveria ser resolvido!!!".

Ele elogiou e agradeceu o trabalho da Guarda Nacional. "Esses protestos da esquerda radical não serão tolerados. Além disso, a partir de agora, NÃO SERÁ PERMITIDO o uso de MÁSCARAS em protestos. O que essas pessoas têm a esconder", escreveu ainda.

Segundo o governador da Califórnia, as autoridades federais "querem um espetáculo". "Não deem isso a eles. Nunca usem violência. Falem pacificamente", escreveu Newsom no X ainda na noite de sábado, chamando de insana a ameaça feita por Hegseth.

Um fotógrafo da agência de notícias AFP registrou incêndios e fogos de artifício iluminando as ruas durante os confrontos, enquanto um manifestante com uma bandeira do México posava diante de um carro incendiado com um slogan contra o ICE, o serviço de imigração dos EUA, responsável pelas operações.

A Guarda Nacional é uma força militar de reserva geralmente acionada em emergências como desastres naturais e, ocasionalmente, em distúrbios civis —quase sempre com o aval das autoridades locais.

É a primeira vez desde 1965 que um presidente envia essa força sem o pedido de um governador estadual, afirmou Kenneth Roth, ex-diretor da ONG Human Rights Watch, acusando Trump de "criar um espetáculo para continuar suas batidas migratórias".

A secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, cuja pasta é responsável pelo ICE, defendeu a decisão do presidente e disse que a Guarda Nacional está "especialmente treinada para esse tipo de situação com grandes multidões".

Trump tem cumprido sua promessa de reprimir com rigor a entrada e permanência de imigrantes em situação irregular no país, aos quais já comparou a monstros e animais.

As operações do ICE em outras cidades americanas provocaram protestos nos últimos meses, mas os distúrbios em Los Angeles são os maiores e mais duradouros contra as políticas do governo Trump até agora.

Leia também