Copacabana vira coral cívico e desafina planos de anistia

Com MPB de peso, ato musical pede democracia afinada e “sem anistia” aos golpistas
Redação

A praia de Copacabana virou palco, plateia e tribuna neste domingo (14). Nada de trio elétrico improvisado: foi MPB em estado de cidadania, com Caetano Veloso, Chico Buarque, Fafá de Belém, Gilberto Gil, Paulinho da Viola e muitos outros afinando vozes contra o projeto que tenta reduzir penas de condenados pela trama golpista do 8 de janeiro.

Foto: Reprodução
Caetano Veloso em ato musical em Copacabana, no Rio de Janeiro, contra o Congresso e o PL da Dosimetria

Batizado com a sutileza possível de “Ato Musical 2: O Retorno”, o encontro se apresentou como continuação da mobilização de setembro contra a chamada PEC da Blindagem. Antes da música, parlamentares e lideranças políticas discursaram; depois, a arte fez o trabalho pesado — aquele que costuma alcançar onde o plenário não chega.

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Caetano, Djavan, Chico Buarque e Gilberto Gil

Caetano abriu os trabalhos com “Alegria, Alegria” e “Gente”, vestindo verde e amarelo sem pedir autorização a extremistas. Ao ouvir o coro de “sem anistia”, respondeu com “Vaca Profana” e “Podres Poderes”, para ninguém dizer que faltou recado.

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O palco seguiu lotado: Duda Beat, Sophie Charlotte, Tony Bellotto, Marcelo Bonfá, Fernanda Abreu, Lenine, Leila Pinheiro, Xamã, Baco Exu do Blues — um setlist que misturou gerações e deixou claro que democracia não é gênero musical único.

Em meio aos acordes, Fernanda Torres lembrou que “ainda estamos aqui” — pelas florestas, pelos direitos das mulheres e para acordar um Congresso que, segundo ela, não pode trabalhar apenas para si. Emicida foi direto: o Parlamento não pode ser “freio de mão” dos sonhos do país.

A emoção subiu quando Fafá de Belém, veterana das Diretas Já, cantou “Vermelho” e avisou que o povo já derrubou ditadura antes — e sabe repetir o refrão. De volta ao palco com Caetano, selou o momento em “Emoriô”.

Chico Buarque fechou com “Vai Passar”. Ao fim, o complemento que dispensa metáfora: “Sem anistia. Sem dosimetria.” Aplausos dispensados — o coro já fazia o trabalho.

O eco chegou a São Paulo, onde manifestantes se reuniram em frente ao Masp, na avenida Paulista. Ao que tudo indica, quando a política desafina, a música brasileira assume a regência — e lembra que democracia também se canta.

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