Prints mostram pagamentos e nomeações feitas por chefe de gabinete de Dr. Pessoa

Caso segue sendo investigado
Redação

Suelene da Cruz Pessoa a Sol do Dr.Pessoa

O Revista40graus obteve acesso a prints de conversas entre o empresário Marcus Almeida e Suelene da Cruz Pessoa, conhecida como Sol Pessoa, apontada pela Polícia Civil como responsável pelo controle do dinheiro do esquema de lavagem de dinheiro e rachadinha ocorridos dentro do gabinete do ex-prefeito de Teresina, Dr. Pessoa, entre os anos de 2020 e 2024.

O espaço segue aberto para esclarecimentos via 86-99850-1234 .

A operação Gabinete de Ouro foi deflagrada ontem (14) pela Polícia Civil e foram presos de forma temporária a ex-chefe de gabinete Suelene da Cruz Pessoa, conhecida como Sol Pessoa, o servidor público Rafael Thiago, o servidor terceirizado Mauro José e o empresário Marcus Almeida. Segundo a polícia, até o momento a investigação aponta que o ex-prefeito Dr. Pessoa não saberia sobre o esquema na sua gestão.

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Nas conversas que o Revista40graus teve acesso, Sol Pessoa, que era chefe de gabinete de Dr. Pessoa, pede para Marcus Almeida, que era servidor terceirizado, para “agilizar” nomes de pessoas para que elas passem a ser comissionadas em secretarias. Em um dos pedidos, ela solicita que uma pessoa seja lotada na Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Políticas Integradas (Semcaspi), com salário de R$ 4 mil.

A investigação aponta que as pessoas que eram melhores renumeradas assumiam compromissos pessoais com a ex-chefe de gabinete, como, por exemplo, o caso de uma pessoa que seria comissionada da prefeitura e que servia como motorista pessoal dela. Segundo a investigação, muitas dessas pessoas contratadas recebiam salário, mas não trabalhavam nas secretarias.

Foto: Reprodução
Print Sol Pessoa

Em outro trecho, Sol questiona se é possível fazer a transferência de R$ 2.300 para duas contas distintas. Ela informa o nome dos beneficiários e o número do PIX e, em seguida, o empresário confirma as transferências.

Sol também chega a enviar boletos de aluguel para serem pagos pelo servidor público Rafael Thiago. Ele é apontado pela polícia como envolvido no esquema e foi preso na terça-feira (14). Na operação, a polícia ainda encontrou cartões de Rafael na residência de Sol Pessoa, levantando a suspeita que ela ainda movimentava contas, mesmo após o fim da gestão. Outros cartões que seriam de ex-servidores também teriam sido encontrados com a investigada.

Foto: Reprodução
Print Sol Pessoa

Outro print mostra Sol Pessoa pedindo um PIX ao empresário Marcus para o pagamento em uma loja.

Durante a investigação, a polícia ainda descobriu que Mauro José, que atuava como motorista na ex-gestão, fez depósito no valor de R$ 150 mil para uma construtora para pagar custos de uma reforma na casa de Sol Pessoa. Responsáveis pela construtora serão ouvidos no inquérito.

Segundo apuração da TV Cidade Verde, os depoimentos ainda não foram prestados pelos presos, porque os advogados de defesa pediram para ter acesso aos documentos do inquérito e das provas colhidas. O pedido dos advogados foi acolhido, mas a partir de amanhã os depoimentos devem ser colhidos.

Ex-chefe de gabinete coordenava esquema

Durante coletiva realizada na terça-feira (14), o delegado Ferdinando Martins explicou que a grande movimentação financeira realizada pelos investigados fez a polícia iniciar as investigações.

“O volume transacionado por eles foi tão grande que o Coaf, órgão de monitoramento financeiro, apontou movimentações atípicas, o que culminou na investigação atual” , explicou o delegado Ferdinando Martins.

Foto: Reprodução
Delegados da Operação Gabinete de Ouro e Interpostos

Segundo o delegado Ferdinando Martins, a chefe de gabinete do Dr. Pessoa, Sol Pessoa, coordenava todo o esquema. Ela chefiava toda a movimentação financeira do esquema.

“Ela tinha forte gestão e controle sobre todos os atos da administração pública. Principalmente lotação, realocação de terceirizados, servidores comissionados envolvendo pagamentos a fornecedores. Ela tinha uma forte gestão e controle sobre isso. O trabalho demonstrou que um imóvel foi adquirido por ela tinha vinculação com eventual vantagem ilícita paga”, explica o delegado.

Ele colocava amigos para participarem do esquema.

“Esses ex-servidores eram pessoas, amigos pessoais da investigada, que operavam valores também para ela. Ajudavam nessa lavagem de dinheiro dela, pagando despesas pessoais, bens de luxo que ela adquiria, joias, bolsas, reforma de casa. Eles emprestavam as contas e faziam esses pagamentos a mando dela”, afirma o delegado Ferdinando Martins.

O delegado Ferdinando Martins destacou que ficou demonstrado envolvimento dos presos, que estão com mandado de prisão temporária, de cinco dias.

“O inquérito que envolve diretamente os presos, nós conseguimos demonstrar, por exemplo, que a servidora pública, que era a chefe de gabinete do antigo gestor, ela realmente controlava e gerenciava todos os pagamentos. Ela tinha certa interlocução com fornecedores, donos de construtoras, ela realocava, determinava valores de terceirizados, recebia pedidos de pagamentos e se valia de contas de outras pessoas para fazer essas transferências. Nós identificamos, inclusive, que um motorista do município, por exemplo, citando números, ele depositou R$ 150 mil reais na conta de uma determinada construtora responsável pelo imóvel de reforma e construção da casa dela. Isso ficou bem demonstrado na investigação, fora outras situações que estão caracterizadas”, destacou.

Ex-prefeito não saberia dos crimes

Questionado sobre o conhecimento do ex-prefeito Dr. Pessoa da movimentação que ocorria em seu gabinete, o delegado Ferdinando Martins afirmou que a investigação ainda não possui indícios nesse caminho.

“Até agora a gente não conseguiu demonstrar, mas era uma assessora e eram motoristas do gabinete dele que faziam essas ações, ajudando essa assessora. O nosso material apreendido e as diligências executadas permitem outros avanços. Nós vamos analisar o material apreendido, os eletrônicos recolhidos, que alguns investigados se deram sem espontaneamente, colaboraram e estão dispostos a colaborar. A gente agora vai fazer a oitiva deles e ver o que eles podem acrescentar e trazer de elementos novos”, encerra.

"Sobrinha de consideração"

Sol Pessoa trabalhava com Dr Pessoa desde a adolescência, foi recepcionista e secretária de consultórios médicos dele e apesar do mesmo sobrenome e ser conhecida como sobrinha do ex-prefeito. Eles não têm parentesco.

Em nota, o ex-prefeito negou seu envolvimento. Confira a nota na íntegra:

NOTA DE ESCLARECIMENTO DR.PESSOA

O ex-prefeito de Teresina, Dr. Pessoa, vem a público esclarecer que a senhora Sol Pessoa, mencionada em notícia sobre recente prisão, não possui qualquer grau de parentesco com ele, tratando-se apenas de coincidência de sobrenome.

Dr. Pessoa ressalta ainda que desconhece qualquer atividade irregular, ilícita ou atípica praticada por servidores durante sua gestão, muito menos com sua anuência ou conhecimento.

Durante o período em que esteve à frente da Prefeitura de Teresina, todos os contratos foram realizados mediante regular processo licitatório, a partir de solicitações das respectivas Secretarias, e com acompanhamento e fiscalização dos fiscais de contrato e da Secretaria Municipal de Administração.

Por fim, o ex-prefeito reafirma seu compromisso com a transparência, a probidade e o respeito ao erário público, valores que sempre pautaram sua vida pública e sua atuação como gestor.

Teresina (PI), 14 de outubro de 2025

Dr. Pessoa
Ex-Prefeito de Teresina

Ex-vereadores investigados

Em um dos inquéritos, relacionados a Operação Interpostos, dois ex-vereadores de Teresina estão sendo investigados, mas seus nomes não foram revelados pela polícia, pois a investigação ainda está em andamento. Ninguém foi preso, apenas materiais foram apreendidos.

“A operação Interpostos deflagrada hoje se refere a essa movimentação financeira, principalmente entre dois ex-parlamentares. Um deles movimentou cerca de R$ 5 milhões em 2022 e, entre 2020 e 2023, aproximadamente R$ 14 milhões. A operação de hoje visa diligenciar mais provas e entender melhor esse esquema. Observamos que, dessas transações financeiras atípicas, um dono de empresa, que é ex-parlamentar, teria firmado contratos com o poder público utilizando interpostos, ou seja, terceiros atuando como sócios ocultos, possivelmente para dissimular patrimônio” , explicou a delegada Bernadete Santana.

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