Renúncia estratégica: Zambelli sai, Câmara suspira e Motta faz pose institucional

Após STF apertar o cerco, mandato cai “por vontade própria” e suplente assume sem traumas

Carla Zambelli (PL-SP) comunicou neste domingo (14) à Câmara dos Deputados que renunciou ao mandato. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), informou que dará posse ao suplente Adilson Barroso (PL-SP), encerrando um capítulo que mistura criatividade política, resistência institucional e um cuidadoso malabarismo jurídico.

Foto: YouTube
A deputada Carla Zambelli (PL-SP), que está presa na Itália

A renúncia surge como solução política elegante após o plenário da Câmara ter decidido, dias antes, salvar a deputada da cassação, contrariando determinação expressa do STF, que havia ordenado a perda imediata do mandato. Com a renúncia, a ordem judicial perde objeto — e todos fingem que foi exatamente assim que o roteiro constitucional previa.

Nos bastidores, a articulação envolveu Motta, aliados da Mesa, advogados, familiares e lideranças do PL. Oficialmente, vence a versão de que Zambelli saiu por decisão própria; na prática, evita-se uma crise aberta entre Câmara e Supremo, além do risco pessoal para o presidente da Casa por eventual descumprimento de ordem judicial.

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Condenada pelo STF à perda do mandato e a dez anos de prisão por invasão ao sistema do CNJ, Zambelli está presa na Itália, para onde fugiu. O pedido de extradição será analisado pela Justiça italiana nesta semana, com determinação do Supremo para que ela cumpra pena no Brasil.

O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), classificou a renúncia como “decisão estratégica”, criticou o STF e falou em “ambiente de exceção” — discurso conveniente para quem troca a cassação compulsória por uma saída voluntária cuidadosamente calculada.

Já a Câmara, que havia desafiado o STF ao rejeitar a cassação, agora se reorganiza para cumprir o protocolo, dar posse ao suplente e seguir adiante, como se nada tivesse acontecido. Hugo Motta, que antes prometera cumprir a decisão judicial e depois recuou, sai do impasse com uma solução intermediária: nem enfrentou o Supremo, nem contrariou sua base.

No fim, todos preservam algo: Zambelli, o discurso; a Câmara, a aparência de autonomia; Motta, o cargo. Quem insistiu em lembrar que condenação criminal gera perda automática de mandato foi o STF — que, ao que tudo indica, acabou sendo obedecido, só não exatamente do jeito que mandou.

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