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Tarifaço de Trump complica situação de Eduardo no STF mais do que a de Bolsonaro

Investigado sob a suspeita de prática dos crimes de coação, obstrução de investigação e outros
Redação

O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros não deve impactar de forma relevante o andamento do julgamento de Jair Bolsonaro (PL) pelo STF (Supremo Tribunal Federal), mas pode afetar o caso de seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

A avaliação é de ministros, pessoas próximas a eles, assessores e advogados de envolvidos nos processos ouvidos pela reportagem.

Eduardo, deputado federal licenciado, é investigado sob a suspeita de prática dos crimes de coação, obstrução de investigação e abolição violenta do Estado democrático de Direito.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que o parlamentar pode ter cometido os crimes ao atuar junto a autoridades estrangeiras nos EUA contra integrantes do Supremo, da PGR (Procuradoria-Geral da República) e da Polícia Federal.

O inquérito foi prorrogado por mais 60 dias pelo ministro Alexandre de Moraes na semana passada para dar mais tempo para novas diligências da Polícia Federal.

Foto: Gabriela BilóDeputado Eduardo Bolsonaro durante marcha pró-armas em Brasília
Deputado Eduardo Bolsonaro durante marcha pró-armas em Brasília

Pessoas com conhecimento do caso avaliam que o anúncio da tarifa e as publicações e declarações do deputado sobre o tema podem reforçar o entendimento de que Eduardo tem atuado contra as instituições brasileiras e tentado interferir no caso do pai.

Trump justificou a sobretaxa como uma reação ao que classificou como uma "caça às bruxas" a Bolsonaro. Ele citou ainda "ordens de censura" para plataformas de mídias sociais americanas.

As afirmações estão em linha com o que Eduardo tem defendido junto a autoridades americanas. Ele tem afirmado que seu pai é alvo de perseguição judicial e que Moraes é responsável por censurar residentes e empresas no país e, com isso, comete violações aos direitos humanos.

Em carta divulgada no dia do anúncio do tarifaço, assinada com o ex-apresentador Paulo Figueiredo, réu no caso da trama golpista, Eduardo pediu para autoridades brasileiras "evitarem escalar" o conflito com os EUA para afastar "o pior", que seria a aplicação das tarifas a partir de 1º de agosto.

No início do texto, o parlamentar diz que a medida de Trump "confirma o sucesso" do diálogo que mantém com autoridades do governo do republicano.

"Nos últimos meses, temos mantido intenso diálogo com autoridades do governo do governo do presidente Trump —sempre com o objetivo de apresentar, com precisão e documentos, a realidade que o Brasil vive hoje. A carta do presidente dos Estados Unidos apenas confirma o sucesso na transmissão daquilo que viemos apresentando com seriedade e responsabilidade."

A dupla ainda diz que as sanções a Moraes "possivelmente serão adicionadas" no combo de retaliação ao Brasil.

Foto: Brendan Smialowski - 19.mar.2019/AFPJair Bolsonaro e Donald Trump em imagem de 2019
Jair Bolsonaro e Donald Trump em imagem de 2019

 

No início do mês, o ministro do STF incluiu um vídeo publicado por Eduardo no X como suposta comprovação de que o parlamentar permaneceria interferindo no processo da trama golpista e, por isso, haveria a necessidade de continuidade das apurações.

Na última sexta (11), o deputado vinculou qualquer negociação sobre as tarifas a uma "anistia ampla, geral e irrestrita". A declaração foi feita no X pouco depois de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ter encontrado o chefe da embaixada americana em Brasília, Gabriel Escobar, e feito uma publicação nas redes sociais pregando a negociação.

No depoimento que deu à PF para a investigação, Bolsonaro foi questionado sobre as fontes de sustento de Eduardo nos EUA, se o PL transfere recursos a ele e com quem ele se articula para as ações junto às autoridades americanas —o que indicaria caminhos dos investigadores.

No caso do processo no qual o ex-presidente é réu, a avaliação de ministros, assessores e advogados é que a tramitação já tem um curso desenhado, e não haveria razão para alterá-la após a carta de Trump.

A Primeira Turma do STF deve julgar a partir de setembro a acusação contra o núcleo central da denúncia da PGR. O tribunal tenta concluir a ação neste ano sob a justificativa de evitar a contaminação do calendário eleitoral de 2026.

No início da semana passada, depois das primeiras declarações de Trump em defesa de Bolsonaro, ministros do tribunal minimizaram o efeito das críticas sobre o andamento do processo. Mesmo depois das medidas econômicas, eles avaliam que a decisão do presidente americano tem um caráter eminentemente político.

Para um ministro da corte ouvido sob reserva, a declaração poderia eventualmente "aumentar a antipatia" em relação a Bolsonaro e piorar sua situação.

Um assessor e advogados também cogitaram a possibilidade de a pressão de Trump surtir resultado contrário e provocar um endurecimento da postura dos ministros. Ainda assim, eles ponderam haver mais elementos em jogo e dizem será preciso aguardar.

Horas após a divulgação da carta de Trump, Luís Roberto Barroso, ligou para Lula. Os dois concordaram que a resposta ao episódio deve ser dada pelas vias da política e da diplomacia. Barroso também falou no dia seguinte com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. A conversa teve o mesmo teor.

Foto: Redes SociaisTarcísio de Freitas com boné MAGA (Make América Great Again) em apoio a Donald Trump
Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas virou alvo de críticas

 

Fonte: Revista40graus e colaboradores

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