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Conselho aprova impeachment de presidente do Corinthians

Augusto Melo é afastado imediatamente do cargo e diz que trabalhará para voltar à sua cadeira
Redação

O Conselho Deliberativo do Corinthians aprovou nesta segunda-feira (26) o afastamento de Augusto Melo da presidência do clube. Na votação do impeachment, 176 conselheiros votaram contra sua continuidade no cargo e 57 votaram para mantê-lo no poder.

Melo já previa sua derrota e, momentos antes da votação, antecipou-se e disse que sai "de cabeça erguida" e prometeu lutar, por meio dos associados, para retornar à sua cadeira.

Com a saída dele, o primeiro vice-presidente, Osmar Stábile, assume o clube provisoriamente. O presidente do Conselho, Romeu Tuma Júnior, tem cinco dias para convocar a assembleia geral dos sócios, que fará a votação definitiva, em um prazo de 30 a 60 dias a partir da marcação.

"Não é renúncia. Ao contrário. Eu vou participar dessa palhaçada", disse Augusto, em entrevista concedida no teatro do Parque São Jorge. A alguns metros dali, em um dos ginásios do clube, já estava em andamento a reunião em que selaria seu afastamento, com base em supostas irregularidades no fechamento do contrato de patrocínio com a empresa de apostas VaideBet.

Foto: GloboAugusto Melo foi afastado nesta segunda-feira (26) da presidência do Corinthians
Augusto Melo foi afastado nesta segunda-feira (26) da presidência do Corinthians

"A gente sabe o que está acontecendo lá dentro. Não estou renunciando", afirmou, depois de ter sido informado pela equipe de comunicação do Corinthians de que suas palavras estavam sendo interpretadas como uma renúncia. "Vou brigar para ficar aqui. Não vai ser entregue de mão beijada. Vai ter votação. Eles têm a maioria. Aí, são 60 dias para a assembleia geral, a gente vai até o final."

Antes disso, Augusto Melo havia listado alguns de seus feitos. Mencionou repetidamente que colocou salários em dia, afirmou que deixou assegurada a entrada de receitas de R$ 3 bilhões. E disse ter dado o pontapé inicial para recuperar o clube após as gestões do grupo liderado por Andrés Sanchez, que comandou o Corinthians de 2007 a 2023.

"Minha parte eu cumpri. Fiz o melhor, aceitei desafios. Precisava de alguém para dar esse pontapé. Fico muito feliz por ter dado esse pontapé e colocado o Corinthians em outro patamar. Ninguém trouxe tanta receita a um clube como eu trouxe ao Corinthians. Saio de cabeça erguida e vou continuar torcendo pelo meu time", declarou.

Quatro dias antes da votação, Melo foi indiciado pela Polícia Civil sob suspeita de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. O objeto da investigação é justamente o acordo com a VaideBet e o destino do dinheiro, que levou a polícia a oferecer uma denúncia ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo).

Foto: Rodrigo Coca - 7.jan.24/Ag. CorinthiansO presidente do Corinthians, Augusto Melo, com boné da casa de apostas online VaideBet
O presidente do Corinthians, Augusto Melo, com boné da casa de apostas online VaideBet

A conclusão do inquérito, com o indiciamento também de dois ex-membros da gestão de Augusto, fragilizou ainda mais a base do presidente às vésperas da reunião do Conselho. Ele negou as acuações, criticou a condução da investigação policial e rechaçou a hipótese de renunciar. "Não tenho envolvimento nenhum com isso. Eu confio na Justiça", afirmou.

A defesa do cartola solicitou um "habeas corpus", com pedido de liminar urgente à Vara de Crimes de Organizações Criminosas de São Paulo. O objetivo era anular o indiciamento, sob os argumentos de que ele se deu de forma "prematura, ilegal e desprovida de justa causa" e de que o ato seria uma "manobra de cunho meramente político". A Justiça, porém, negou o pedido.

Os aliados do presidente tentaram também uma liminar para impedir a votação, negada pela juíza Márcia Cardoso, da 5ª Vara Cível do Tatuapé, nesta segunda. Então, sem esperança de que venceria a disputa no Conselho, antecipou-se ao resultado e deixou sua cadeira para Osmar Stábile.

Stábile tem atuação de longa data na política corintiana. Ele foi vice-presidente de esportes terrestres em parte da gestão de Alberto Dualib, que comandou o clube de 1993 a 2007. Depois, concorreu à presidência do clube em diferentes ocasiões. Em 2019, assumiu a autoria de um vídeo que exaltava o golpe militar de 1964 e os 21 anos de ditadura no Brasil, uma peça que foi divulgada pelo governo de Jair Bolsonaro.

Em nota logo após tomar posse, o agora presidente afirmou que "as valiosas páginas de conquistas e lutas do Sport Club Corinthians Paulista não podem mais ser manchadas por escândalos".

"Não temos mais o direito de errar. Trabalharei incansavelmente para isso, consciente de que o poder é passageiro e a caneta é temporária - mas o Corinthians, este sim, é eterno e pertence ao povo e a todos nós corintianos", acrescentou Stábile.

O presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians, Romeu Tuma Júnior, tem agora cinco dias para marcar a assembleia dos sócios, que ocorrerá, a partir da marcação, em um prazo de 30 a 60 dias. A votação dos associados, no sistema de maioria simples, é definitiva.

Caso os sócios rejeitem o impeachment, Augusto Melo voltará ao cargo. Se a destituição for aprovada, o Conselho Deliberativo será convocado para eleger —sem a participação dos sócios— um novo presidente até o que seria o fim do mandato de Melo, em dezembro de 2026.

Em pronunciamento após a votação desta segunda, Tuma afirmou que o presidente interino "enquanto estiver no cargo, tem liberdade para tomar decisões. Os diretores não seguem mais. O novo presidente tem que convocar a nova direção".

A votação dos conselheiros foi inicialmente marcada para dezembro do ano passado. No entanto, uma liminar solicitada pelo próprio presidente suspendeu a reunião minutos antes da segunda chamada.

A decisão judicial acabou derrubada posteriormente, e um novo encontro ocorreu em janeiro, sob clima tenso no Parque São Jorge, com protestos da torcida nas imediações da sede alvinegra. Àquela altura, boa parte dos torcedores, sobretudo a Gaviões da Fiel, maior organizada do clube, eram contrários ao afastamento. A posição das organizadas mudou depois do indiciamento.

Na reunião de janeiro, antes da vocação do impeachment propriamente dito, houve uma votação prévia sobre a admissibilidade do processo. Por uma margem pequena, de 12 votos (126 a 114), o "sim" venceu para a continuidade do rito. Porém, com o avançar da hora, o presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, adiou novamente a votação, apontando questões de segurança e citando que muitos conselheiros já haviam deixado o local.

Membros da situação e da oposição se dividiram sobre a decisão de Tuma. Devido à margem apertada da primeira votação, não era possível prever se o movimento era mais ou menos favorável para Augusto Melo. Se o "não" tivesse vencido naquela noite, o processo teria sido arquivado.

Novas discussões decorreram do adiamento. A defesa de Augusto afirmava que somente os conselheiros que participaram da reunião de janeiro poderiam votar no pleito desta segunda. O presidente do Conselho defendia que todos os conselheiros estavam aptos.

Atualmente, o órgão é composto por 300 conselheiros, sendo 200 trienais e 100 vitalícios.

A atuação de Romeu Tuma no processo é alvo de questionamentos por parte de Augusto Melo e de seus advogados —equipe recentemente reforçada por José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça, que também foi o defensor da presidente da República Dilma Rousseff no processo que resultou em seu impeachment em 2016.

Cardoso tem afirmado que Augusto não teve amplo direito de defesa e que o processo contra ele viola o Estado democrático de Direito.

Há ainda o debate sobre uma reunião realizada em 10 de abril pela Comissão de Ética e Disciplina, que votou pelo afastamento de Tuma da presidência do Conselho. No entanto, conselheiros, o próprio Tuma e o Cori (Conselho de Orientação do Corinthians) disseram não ter recebido a formalização do afastamento.

A Comissão de Ética é presidida por Roberson Medeiros, que é vice-presidente do Conselho Deliberativo e, portanto, seria o substituto imediato de Tuma em caso de afastamento. Tuma, porém, continua despachando normalmente.

Esse argumento foi usado pela defesa de Augusto na tentativa de obter uma liminar para suspender a votação, mas a Justiça negou a ação.

Fonte: Revista40graus e colaboradores

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