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Governador a da Califórnia reforça imagem presidenciável em duelo com Trump

Gavin Newsom desafia republicano e se mostra nome forte como possível líder da oposição
Redação

Há um dividendo político evidente que o governador da Califórnia pretende conquistar ao desafiar o envio de militares feito por Donald Trump no estado, em meio a protestos contra medidas federais anti-imigrantes em Los Angeles. Gavin Newsom , 57, não nega ver um futuro para si na cadeira de presidente dos Estados Unidos, embora diga que não pensa nisso no momento.

Os holofotes já tenderiam naturalmente ao governador em segundo mandato do estado mais populoso e rico do país, com PIB anual que o faria ser a quarta economia global se fosse independente. A oposição firme de Newsom a Trump reforça essa tendência, em momento em que o político vinha sendo criticado por figuras mais progressistas do Partido Democrata por dialogar com aliados do presidente republicano.

Foto: Daniel Cole - 5.jun.25/ReutersO governador da Califórnia, Gavin Newsom, durante evento em escola em Compton, quando anunciou programa do governo para a educação
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, durante evento em escola em Compton, quando anunciou programa do governo para a educação

Em pronunciamento na TV na noite de terça-feira (10), o democrata comparou Trump a "ditadores falidos" e criticou a decisão de envolver a Guarda Nacional e fuzileiros navais na contenção das manifestações em Los Angeles, dizendo que o republicano jogou de propósito lenha na fogueira.

"No lugar da segurança pública, ele escolheu fazer um teatro", disse Newsom, sob o argumento de que a situação estava pacífica até o envio das tropas pelo governo federal.

Durante sua gestão, o governador tem defendido uma série de políticas que contrariam bandeiras de Trump, incluindo mais energia limpa, combate à crise climática e ampliação dos direitos de migrantes, o que tem lhe dado projeção dentro do partido, do país e mesmo internacionalmente. Também tem criticado de forma aberta estados considerados conservadores e governados por republicanos, casos de Texas e Flórida, em temas como controle de armas, direito ao aborto e educação.

Por outro lado, Newsom tem tentado cristalizar uma imagem de político moderado. Em entrevista coletiva recente, ele afirmou que sempre foi um "pragmático resoluto" ao ser questionado sobre um movimento político ao centro.

O governador californiano entrevistou aliados do presidente Trump em seu podcast, lançado recentemente, como o estrategista político Steve Bannon, e colegas democratas, como o governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris em 2024, Tim Walz.

Nas conversas, chegou a concordar com entrevistados ideologicamente distantes em temas caros à base democrata mais progressista, chamando de injusta a presença de mulheres trans em competições esportivas femininas, por exemplo.

Na entrevista com Walz, evitou concordar com críticas feitas pelo colega a Bannon, dizendo que é preciso escutá-lo e comparando falas contra o sistema político feitas pelo estrategista com as que o senador democrata Bernie Sanders fazia no passado —comparação pela qual foi criticado.

Newsom também tem sido questionado por seus correligionários sobre a habitação, problema grave da Califórnia. O estado tem a maior população em situação de rua no país, mostram dados federais, e os números pioraram sob sua gestão —em 2024, registrou-se um recorde de mais de 187 mil pessoas nessas condições. O democrata tem pressionado cidades para remover acampamentos de sem-teto sob o argumento de que locais com essas estruturas representam "sério risco à segurança pública", alinhando-se, nesse caso, a discursos de Trump.

Outro momento recente de rusga com a ala mais progressista do Partido Democrata foi quando afirmou, em março, que a legenda tinha se tornado tóxica e não refletia mais os anseios do eleitorado.

O deputado democrata californiano Ro Khanna refutou a avaliação de Newsom. "Este não é o momento de se juntar ao coro que ataca nosso partido. Essa raiva tem que ser sobre o que Trump está fazendo hoje", publicou Khanna no X.

Pesquisa AP-NORC de maio mostrou que apenas um terço dos eleitores democratas diziam se sentir otimistas com a legenda, em comparação com 6 em cada 10 registrados em julho de 2024.

Newsom teve papel proeminente no Partido Democrata no episódio que pode ter sido o ápice das dificuldades eleitorais da legenda: a derrocada da candidatura de Joe Biden durante debate com Trump, em junho do ano passado. Foi ele o principal político democrata a aparecer para falar com a imprensa depois do péssimo desempenho do então presidente, que constrangeu o partido e imediatamente colocou em xeque a candidatura de seu líder.

O governador defendeu Biden na ocasião, reafirmando que confiava no colega de legenda e na sua capacidade de governar. A declaração e sua aparição, por outro lado, já apresentavam a um público nacional e ao próprio partido um possível nome substituto.

Foi Kamala Harris, porém, quem conseguiu articular e solidificar a candidatura. Ali, Newsom também mudou o tom em relação ao ainda presidente e sugeriu distanciamento de Biden a Kamala —outrora procuradora-geral e senadora pela Califórnia antes de ser vice-presidente.

"Não podemos subestimar os impactos do último debate. Ela [Kamala] tem que mostrar ao povo americano que ela não é Joe Biden, e certamente que não é Donald Trump; ela é uma nova geração de líderes, e essa é a oportunidade dela", afirmou a jornalistas na véspera do debate entre a democrata e Trump.

O que é descrito atualmente por Newsom como intromissão do governo federal e abuso de poder por parte de Trump no envio de forças militares para Los Angeles fornece também uma plataforma para ele tentar reverter as críticas internas e cristalizar seu nome à frente do Partido Democrata, fragmentado e sem uma liderança clara após a derrota eleitoral acachapante de 2024.

O presidente republicano afirmou que Newsom não consegue fazer o seu trabalho ao determinar o envio de 4.700 militares à cidade na costa oeste, incluindo 700 fuzileiros navais. No sábado (7), o responsável do governo pela fronteira, Tom Homan, ameaçou prender qualquer pessoa que obstruísse operações migratórias no estado, incluindo Newsom e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass. O presidente ecoou a ameaça dias depois, manifestando apoio a tal medida.

Foto: REUTERSManifestante em cima de carro com a bandeira do México
Manifestante em cima de carro com a bandeira do México

O governador processou a Casa Branca pelo envio das tropas. E também ecoou o discurso de campanha de Biden ao evidenciar comportamentos autoritários de Trump. "A democracia está sob ataque na nossa frente. O momento que temíamos chegou."

 

Fonte: Revista40graus e colaboradores

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