Lula espera convencer Trump a suspender tarifas;EUA vão priorizar etanol e outros
Negociadores tiveram conversas informais ao longo da semana; acertos e detalhes ficariam para depoisO presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entrará na sua primeira reunião bilateral com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com a expectativa de conseguir convencer o americano a pausar o tarifaço aplicado contra o Brasil enquanto os dois países negociam os termos de um acordo bilateral.
Ao longo da última semana, negociadores brasileiros mantiveram conversas informais com responsáveis por questões comerciais dos EUA, em que os americanos apontaram as suas prioridades nas negociações: conseguir acesso ao mercado de etanol no Brasil e discutir a regulamentação de big techs, incluindo moderação de conteúdo.
Os americanos afirmaram que a regulação das plataformas digitais está ligada a questões de liberdade de expressão. Já o etanol é uma queixa antiga dos americanos. A reclamação é que o etanol americano, feito de milho, enfrenta uma sobretaxa de 18% para entrar no Brasil, enquanto a barreira nos EUA era de apenas 2,5%.
Já o lado brasileiro aponta que Washington nunca aceitou vincular discussões sobre o etanol a uma liberalização do mercado de açúcar nos EUA, altamente protegido.
Os presidentes não devem entrar nos detalhes das concessões sobre esses produtos, cuja discussão ficará reservada a um segundo momento, entre negociadores, caso as conversas avancem.
O próprio Lula reconheceu isso em entrevista a jornalistas durante a viagem à Ásia. O presidente disse que um acordo efetivo não será feito durante a reunião, mas nos encontros entre os negociadores do Brasil e dos EUA.
Embora não confirmado oficialmente, o encontro está previsto para este domingo (26), na Malásia, enquanto ambos os líderes participam da cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático).
Membros do governo brasileiro e americano destacam que a caneta é de Trump e que é ele quem decidirá se suspende ou não as tarifas. Os EUA aplicaram sobretaxas de 50% ao Brasil, sendo 10% consideradas recíprocas –e implementadas contra todos os países. Os 40% restantes estão atreladas a questões políticas, como a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado.
A expectativa é que a conversa entre Trump e Lula gire em torno principalmente desta última fatia. O objetivo do governo brasileiro é conseguir um acordo nos moldes do que o presidente americano já costurou com países como China e México: suspender as tarifas enquanto a negociação definitiva se desenrola em segundo plano.
Lula também pedirá a reversão de sanções aplicadas a autoridades brasileiras, como a punição pela Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e a suspensão de vistos.
Oficialmente, nenhum dos governos confirmou a reunião. Mas, nos bastidores, um integrante de alto nível da administração Trump diz que o republicano quer encontrar Lula e que há tratativas para tal. Diplomatas do governo brasileiro dizem o mesmo.
O encontro ocorre nove meses após a posse de Trump e após meses de uma crise inédita entre os dois países. A conversa vem sendo costurada pelos chefes das diplomacias de ambos os lados.
Na semana passada, o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) e o secretário de Estado, Marco Rubio, tiveram a primeira reunião após os EUA aplicarem uma série de sanções ao Brasil, considerada a largada das negociações para reduzir os 50% de sobretaxas aos produtos brasileiros.
"Se eu não acreditasse que fosse possível fazer um acordo, eu não participaria da reunião. Se bem, que o acordo não vai ser feito amanhã, ou depois de amanhã, quando eu me reunir com ele. O acordo será feito pelos negociadores", declarou.
Embora o foco sejam as tarifas, outros temas de relação bilateral devem permear a conversa. A expectativa é que Lula aborde a ofensiva militar dos Estados Unidos na Venezuela. O governo afirma que essa iniciativa pode causar desestabilização na América do Sul, além de ter efeito contrário, com fortalecimento do crime organizado.
Como revelou meio de comunicação nacional, esse tema já foi tratado por Lula com Trump durante ligação telefônica entre os dois, porque o assunto é considerado relevante pelo Brasil.
Nesta sexta, Lula afirmou, durante passagem por Jacarta, na Indónesia, antes de ir a Malásia, que não há assunto proibido na conversa com Trump. "Podemos discutir de Gaza, à Ucrânia, à Rússia, à Venezuela, a materiais críticos, a minerais, a terras raras. Podemos discutir qualquer assunto", declarou.
Fonte: Revista40graus, colaboradores e FS
