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Milhares se reúnem em Paris por Le Pen, que diz se inspirar em Luther King

Ultradireitista citou líder dos direitos civis dos EUA durante ato contra decisão da Justiça que a t
Redação

Líder da ultradireita na França, Marine Le Pen disse neste domingo (6) em Paris que vai se inspirar em Martin Luther King Jr., assassinado em 1968 por lutar contra a segregação racial nos Estados Unidos, para enfrentar sua inabilitação política de cinco anos.

Há quase uma semana, a pré-candidata à Presidência foi condenada por desviar fundos do Parlamento Europeu para o caixa de seu partido, a Reunião Nacional (RN), e impedida de concorrer a cargos públicos por cinco anos —medida que entrou em vigor imediatamente apesar de ainda ser passível de recursos.

Foto: Julien de Rosa/AFPLíder da ultradireita da França, Marine Le Pen, faz discurso durante um ato em Paris
Líder da ultradireita da França, Marine Le Pen, faz discurso durante um ato em Paris

Caso não consiga reverter a decisão nos tribunais, Le Pen estará fora das eleições de 2027, o que seria um revés catastrófico para a política, que trabalha para suavizar sua imagem ao menos desde 2017, quando sofreu a primeira derrota para o atual presidente francês, Emmanuel Macron.

A alusão a um líder pacifista neste domingo mostra que sua estratégia não mudou apesar dos ataques à Justiça francesa. "A nossa luta é também uma luta pelos direitos civis. Pois claramente existem várias categorias de cidadãos na França", afirmou a milhares de apoiadores que agitavam bandeiras francesas na Praça Vauban aos gritos de "Marine, Marine".

"A nossa linha de conduta nunca será a da brutalização, mas sim a pacífica do pastor Martin Luther King, que lutou pelos direitos civis dos cidadãos americanos na época oprimidos e privados de direitos. Para isso, pretendemos convidar todos os franceses amantes da liberdade a se juntarem a nós numa resistência pacífica, democrática, popular e patriótica", continuou em seu discurso, que teve como pano de fundo o emblemático Palácio dos Inválidos, que abriga o túmulo de Napoleão.

Luther King foi o mais importante líder do movimento pelos direitos civis no país na década de 1950 e 1960, quando políticas de segregação racial nos EUA ainda separavam legalmente pessoas brancas e negras em espaços como escolas e transporte público. Luther King ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1964, quatro anos antes de ser morto na cidade de Memphis, no Tennessee, onde participaria de uma manifestação.

Repetindo a declaração do presidente americano, Donald Trump, sobre o caso, Le Pen afirmou que a condenação é uma "caça às bruxas" e disse que não vai desistir de concorrer. Seu possível substituto, Jordan Bardella, 29, afirmou que a decisão judicial tinha como objetivo "eliminá-la da corrida presidencial".

Não houve uma estimativa imediata da polícia a respeito do número de manifestantes no protesto, apontado como um termômetro para a popularidade da política, mas os organizadores da marcha disseram que cerca de 15 mil pessoas estavam presentes.

A aposentada Marie-Claude Bonnefont, 79, uma das participantes do ato, disse à Reuters ser contra "essa piada de decisão contra Le Pen". Outra manifestante, a estudante de ciência política Typhaine Quere, também criticou a medida. "Deveríamos realmente questionar a imparcialidade dos juízes", afirmou à agência de notícias.

Le Pen também prometeu neste domingo usar todas as ferramentas e meios legais para poder concorrer em 2027. O tribunal responsável disse que emitirá uma decisão sobre o recurso de sua defesa no meio do ano que vem, prazo que permitirá sua candidatura caso a condenação seja anulada.

Uma pesquisa de opinião da consultoria Elabe divulgada neste sábado (5) mostrou que Le Pen ainda era a favorita para vencer o primeiro turno da votação presidencial, mesmo com a condenação. De acordo com o levantamento, ela tem entre 32% e 36% de apoio, à frente do ex-primeiro-ministro Edouard Philippe, que tem entre 20,5% e 24%.

Os ataques da política e de seus aliados à Justiça francesa, no entanto, parecem não ter ganhado tração —especialmente depois que o juiz principal do caso foi colocado sob proteção policial devido a ameaças de morte. Cerca de 65% dos entrevistados disseram estar surpresos com o veredito e 54% afirmaram que Le Pen foi tratada como qualquer outro réu, de acordo com uma pesquisa da Odoxa.

Houve contramanifestações em diversos partes contra os ataques de Le Pen à Justila francesa.

O ato do partido de Macron, o República em Marcha, ocorreu em Saint-Denis, um subúrbio operário ao norte de Paris. Nele, estavam presdentes o primeiro-ministro François Bayrou e o ex-primeiro-ministro Édouard Philippe, que também quer tentar concorrer nas eleições presidenciais de 2027.

O ex-primeiro-ministro Gabriel Attal acusou a ultradireita de atacar as instituições. "Quem rouba, paga", disse o político em seu discurso. "Vamos manter esse compromisso com a moralidade da vida política e com nossas instituições em um momento em que estão sendo desafiadas pela extrema-direita, que está se reunindo hoje para atacar nossos juízes, para atacar nossas instituições."

No ato convocado pela França Insubmissa e o partido Ecologista na Place de la République, o coordenador da primeira agremiação, Manuel Bompard, disse que a ultradireita havia mostrado sua verdadeira face após anos de esforços para se consolidar. "A extrema-direita é perigosa para a democracia e perigosa para o Estado de direito", afirmou.

Fonte: Com Reuters e AFP / Folha

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