Número de mortos após enchentes repentinas no Texas ultrapassa 100
Trump declarou emergência federal e disse que pode visitar região nesta semanaO número de mortos nas enchentes repentinas que devastaram o estado do Texas, no sul dos Estados Unidos, chegou a 104 nesta segunda-feira (7), de acordo com as autoridades locais. Os serviços de resgate entraram no quarto dia de buscas de pessoas desaparecidas em meio a alertas para novas inundações.
As vítimas incluem um grupo de meninas que participavam de um acampamento cristão às margens do rio Guadalupe, que transbordou violentamente na sexta-feira (4) —autoridades tinham confirmado a morte de 28 crianças. O xerife do condado de Kerr, Larry Leitha, disse na segunda que ainda há vítimas que não foram identificadas. No domingo (6), as autoridades informaram que 41 pessoas estavam desaparecidas.

As cheias foram causadas por tempestades que começaram na tarde de sexta. O episódio já representa uma das enchentes mais mortais dos EUA nos últimos cem anos. Para efeito de comparação, as enchentes no Rio Grande do Sul, de abril a maio de 2024, maior tragédia climática da história do estado, mataram 183 pessoas.
"Esta será uma semana difícil", disse Joe Herring Jr., prefeito de Kerrville, nesta segunda, ao comentar que a chance de haver sobreviventes diminui enquanto o tempo passa. "Precisamos de orações", acrescentou.
A cidade de Kerrville, no condado de Kerr, foi a mais afetada, registrando pelo menos 84 óbitos, incluindo 28 crianças. O Camp Mystic, um acampamento cristão de verão só para meninas, confirmou na manhã desta segunda que ao menos 27 crianças e monitoras morreram. O local ficou sem energia, água e sinal de internet.
"Nossos corações estão despedaçados junto com os de nossas famílias que estão enfrentando esta tragédia inimaginável", diz a nota divulgada nesta segunda pelo prefeito.
Os socorristas ainda enfrentavam a possibilidade de novas chuvas nesta segunda. O Serviço Nacional de Meteorologia emitiu alertas para várias regiões do centro do Texas. Os trabalhos também foram afetados depois que um dos helicópteros na região foi forçado a fazer um pouso de emergência após colidir com um drone. O equipamento teria invadido o espaço aéreo restrito determinado pelas autoridades.
Segundo meteorologistas, tempestades em áreas já saturadas de água podem provocar novas inundações repentinas. Helicópteros, drones, barcos e até cavalos têm sido usados para vasculhar regiões cobertas de destroços. As buscas se concentram principalmente nas margens de rios e em zonas rurais de difícil acesso.
A Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (Fema) foi acionada após o presidente Donald Trump declarar emergência federal. Aviões e helicópteros da Guarda Costeira dos EUA também são usados nas buscas.
Trump, que afirmou no domingo (6) que provavelmente visitaria o Texas na sexta-feira (11), já apoiou planos para reduzir o papel do governo federal na resposta a desastres naturais, transferindo mais responsabilidades aos estados.
A gestão do republicano promoveu uma série de cortes na Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês), órgão de previsões e alertas que abriga o Serviço Nacional de Meteorologia. O ex-diretor da Noaa Rick Spinrad afirmou à agência de notícias Reuters que a diminuição de verbas deixou muitos escritórios meteorológicos sem funcionários suficientes.
O escritório do Serviço Nacional de Meteorologia responsável pelos alertas no condado de Kerr estava com uma vaga aberta: a de meteorologista de coordenação de alertas, que atua com os gestores de emergência e o público para garantir que todos saibam como agir em um momento de crise.
A pessoa que ocupava o cargo estava entre centenas de funcionários que aceitaram ofertas de aposentadoria antecipada e deixaram a agência em abril.
No domingo, Trump rebateu críticas de que os cortes do governo teriam prejudicado a reação ao desastre. "Aquela situação da água, isso tudo é, e foi, realmente algo herdado do governo [Joe] Biden", disse ele. "Mas eu não culparia Biden por isso também. Apenas diria que isso é uma catástrofe que acontece uma vez a cada cem anos."
Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.
Outro órgão ligado à ONU, o IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática), já afirmou em relatório que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças foi causada pela ação humana.
O Itamaraty divulgou nota nesta segunda (7) em que expressa suas condolências e diz se solidarizar com as famílias das vítimas, mas reforça que é preciso tomar medidas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
"O governo do Brasil reafirma que as alterações climáticas intensificam eventos extremos e aumentam a frequência de desastres semelhantes, o que torna ainda mais urgente a necessidade de medidas conjuntas por parte da comunidade internacional", afirma o comunicado. Segundo o ministério, não há brasileiros entre as vítimas.
Fonte: Revista40graus e colaboradores