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Sob Trump, brasileiros encaram endurecimento migratório e rotina de medo

Ofensiva do presidente americano dentro do país e longe das fronteiras afeta comunidades
Redação

A prisão do estudante Marcelo Gomes, 18, em Massachusetts e a comoção em torno do caso ilustram a reação de parte da comunidade brasileira imigrante nos Estados Unidos sob a segunda gestão de Donald Trump.

Dados da imigração americana mostram que o número de deportações de brasileiros nos três primeiros meses deste ano se manteve estável em relação ao mesmo período de anos anteriores. Em outra frente, o governo Lula (PT) detectou aumento na detenção de imigrantes brasileiros desde o início do ano, segundo um integrante do Itamaraty.

Foto: Reproduçao CBS NewsMarcelo Gomes, 18, estudante do ensino médio de Massachusetts, foi detido pela imigração dos EUA no fim de semana
Marcelo Gomes, 18, estudante do ensino médio de Massachusetts, foi detido pela imigração dos EUA no fim de semana

O Ministério das Relações Exteriores não divulgou números à reportagem, mas dados disponíveis na plataforma Trac, da Universidade de Syracuse, em Nova York, indicam esse aumento.

Nos três primeiros meses deste ano, havia 186 brasileiros detidos com casos de deportação em análise por cortes americanas. No mesmo período do ano passado, sob a gestão de Joe Biden, era metade disso (93). O número não capta todas as detenções feitas pelo ICE (serviço de imigração americana), que podem ser maiores, mas indica tendência de aumento.

Nesta semana, dez organizações de imigrantes brasileiros nos EUA enviaram ao governo Lula uma carta na qual relatam uma "crise humanitária" e "onda crescente, intensa e violenta de prisões".

"Agentes mascarados têm prendido brasileiros sem mandado judicial, com longos atrasos de três, cinco ou mais dias até que a pessoa apareça no sistema de custódia do ICE. Muitos são enviados para centros de detenção em outros estados, dificultando o apoio jurídico e humanitário oferecido por suas famílias e comunidades", diz o documento.

"Crescem também os relatos de intimidação por parte de agentes imigratórios, que estacionam viaturas em frente a igrejas, centros comunitários e comércios brasileiros, criando um clima de medo e retraimento. Em muitos lares, pessoas têm deixado de sair de casa, temendo novas ações", continua o texto.

As organizações pedem medidas, incluindo aumento da capacidade consular. Como mostrou a Folha, o número de solicitações de registros de nascimento aumentou 43% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período no ano passado. Já a alta na emissão de passaportes foi de 21%.

O Itamaraty montou uma força-tarefa para atender a demanda. Em relação às pessoas detidas, um integrante do ministério disse à reportagem que os 11 consulados-gerais nos EUA fizeram 13 visitas a centros de detenção em suas jurisdições desde janeiro.

No geral, a quantidade de prisões de imigrantes tem registrado aumento nos seis primeiros meses do governo Trump, mas ainda não atingiu a meta de prender 3.000 imigrantes por dia.

Relatório da Universidade de Syracuse mostra que em abril houve uma alta considerável nas prisões, mas que, de 20 de janeiro (data da posse de Trump) até 3 de maio, a média de detenções diárias ficou só 2% maior que as de Joe Biden. Seriam 778 detenções por dia sob Trump contra 759 de Biden.

A diferença principal e o que tem afetado mais brasileiros é a característica das prisões. Como meio de comunicação nacional mostrou, o presidente americano intensificou as ações longe das fronteiras e tem mirado o interior do país, onde as pessoas já estão estabelecidas.

A professora Gabrielle Oliveira, da Universidade Harvard, pontua que, na fronteira, o número de brasileiros apreendidos sempre foi inferior ao de outras nacionalidades na América Central. "Quando isso aumenta na parte doméstica central dos EUA, há uma diferença muito grande para a comunidade brasileira", diz, a especialista, citando cidades menores com alta concentração de brasileiros.

Gabrielle conta que está há 17 anos nos EUA, trabalhando há 15 com imigração, e nunca percebeu os imigrantes do Brasil em estado de alerta como agora. "Vários brasileiros se sentiam até mais alinhados com a ideologia de Trump", aponta. Segundo ela, agora são mais comuns os relatos de gente sendo confrontada pela realidade de que não há nacionalidade imune a esse tipo de política de imigração.

O Itamaraty estima que havia no ano passado por volta de 2 milhões de brasileiros em território americano, sem especificar o status legal desses cidadãos. Um levantamento do MPI (Migration Policy Institute) projeta que, em meados de 2023, havia 13,7 milhões imigrantes em situação irregular nos EUA. Desses, 286 mil seriam brasileiros, a sétima maior população.

Até novembro do ano passado, dados do serviço de imigração americano mostram que havia 38 mil brasileiros já com ordem de deportação no país de um total de quase 1,5 milhão de pessoas com uma sentença de expulsão do país.

O caso do estudante Marcelo Gomes, por ora, soma-se a essa estatística. O estudante foi solto pela imigração americana, mas seu processo de deportação seguirá em análise pela Justiça. A advogada dele, Robin Nice, avisou que solicitará asilo. Por enquanto, a família de Marcelo segue em alerta. À Folha o pai dele, João Paulo Gomes Pereira, afirmou que nem ele nem a mulher estavam mais saindo de casa.

Fonte: Revista40graus e colaboradores

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