Velório de Niède Guidon será aberto ao público às 15h; programação de aniversário
Programação de aniversário do Parque foi suspensaNo dia do aniversário de 46 anos do Parque Nacional Serra da Capivara, por coincidência do destino ou relação mística, Niède Guidon será sepultada. A cientista que revolucionou os estudos da ocupação humana, será enterrada amanhã, às 9h, em seu jardim, a poucos metros do Museu do Homem Americano e sede da Fundham.
O velório terá início às 15h no Museu, que por muitos anos foi sua morada.
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O museu está fechado e sendo preparado para receber o público. Foram colocados tendas e cadeiras para receber o público.
Marrian Rodrigues, chefe do parque, confirmou que adiou os preparativos para o aniversário do parque.

Quem foi Niède Guidon
Niède Guidon foi uma das mais importantes arqueólogas da história brasileira e mundial. Ela realizou pesquisas arqueológicas no Piauí, sendo responsável pela descoberta de mais de 1.200 sítios pré-históricos e vestígios dos primeiros habitantes humanos do continente. Grande parte dessas descobertas ocorreu em escavações realizadas em abrigos rochosos naturais com pinturas rupestres, no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí — área declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1991. Desses sítios, mais de 600 contêm pinturas rupestres.
A teoria de Guidon sobre a chegada do homem às Américas rompeu com o consenso científico tradicional da arqueologia, amplamente dominado por pesquisadores norte-americanos, que defendem que os primeiros seres humanos teriam chegado ao continente há cerca de 14 mil anos, vindos da Ásia, atravessando o Estreito de Bering (entre a Sibéria e o Alasca) e migrando em direção ao sul.
Com base nas escavações no Piauí e nas datações realizadas na Serra da Capivara, Guidon propôs uma hipótese alternativa: os primeiros humanos teriam chegado às Américas vindos da África, há muito mais tempo do que se supunha. Segundo artigo publicado por ela em 2008, na revista da FAPESP, o material arqueológico resgatado até o início dos anos 2000 indicaria que o homem teria chegado à região há cerca de 100 mil anos.
Niède Guidon atuou por cinco décadas na região, sendo a principal responsável pela estruturação científica e institucional do parque. Foi fundadora e diretora-presidente da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) e nomeada como presidenta emérita da instituição.
Em reconhecimento à sua contribuição científica e cultural, Niède foi agraciada com diversos títulos e homenagens. Em 2018, recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). Também foi homenageada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) com o mesmo título — o mais importante concedido por uma universidade a personalidades que se destacam por sua contribuição à ciência, à cultura ou à humanidade.
Em 2024, Niède Guidon foi vencedora do Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia — uma das maiores honrarias da pesquisa científica no Brasil — concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), em parceria com a Marinha do Brasil.

Fonte: Revista40graus e colaboradores