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Câmara suspende mandato de deputado bolsonarista por ofensas a Gleisi

Conselho de Ética usou contra Gilvan da Federal (PL) rito criado por Lira em 2024
Redação

O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados decidiu nesta terça-feira (6) suspender por três meses o mandato do deputado federal Gilvan da Federal (PL-ES) devido a ofensas proferidas por ele contra a ministra e deputada federal licenciada Gleisi Hoffmann (PT), chefe da articulação política do governo Lula (PT).

A decisão, aprovada por 15 votos contra 4, é inédita e resulta de um rito sumaríssimo apresentado em junho de 2024 pelo então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e usado pela primeira vez agora por Hugo Motta (Republicanos-PB).

A punição tem efeito imediato e, segundo a assessoria da Câmara, não há definição ainda sobre o procedimento a ser adotado, por ser um rito inédito. Deputados do conselho falavam, porém, em suspensão do recebimento de salários (R$ 46,6 mil ao mês) e verbas por esse período.

Foto: Ranier BragonO deputado Gilvan da Federal (PL-ES) na sessão do Conselho de Ética que analisou o afastamento do mandato
O deputado Gilvan da Federal (PL-ES) na sessão do Conselho de Ética que analisou o afastamento do mandato

Gilvan, bolsonarista que é conhecido na Câmara por sempre andar com a bandeira do Brasil envolta no terno, poderia recorrer ao plenário, mas disse que não fará isso e que aceita a punição.

Em sessão do dia 29 da Comissão de Segurança Pública, o deputado usou o termo "prostituta do caramba" em uma referência a Gleisi e ao codinome "Amante" — nome que consta na lista da Odebrecht entregue à Lava Jato, em um processo no qual a ministra foi absolvida por unanimidade pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2018.

O rito sumaríssimo aprovado sob o comando de Lira em 2024 tinha o objetivo declarado de conter o festival de baixarias que comumente ocorre nas sessões plenárias e de comissão na Câmara.

Dias antes de a medida ser proposta por Lira e aprovada pela maioria dos deputados, por exemplo, parlamentares quase trocaram agressões físicas durante a sessão do Conselho de Ética que absolveu André Janones (Avante-MG) pela suspeita de "rachadinha".

Apesar da punição a Gilvan, a própria sessão do conselho desta terça abrigou um bate-boca entre o ex-ministro Paulo Pimenta (PT-RS) e o deputado bolsonarista Sargento Gonçalves (PL-RN), entre outros entreveiros.

Parlamentares se colocaram contra a medida de Lira, porém, devido à ampliação dos poderes da Mesa Diretora, que é quem tem o poder de propor a suspensão ao conselho. À época, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), por exemplo, chamou a medida de "AI-5 de Lira".

Nesta terça, o PSOL foi a favor da suspensão do mandato de Gilvan. Glauber esteve presente em parte da sessão, mas não discursou. Recentemente o psolista teve a recomendação da cassação do seu mandato aprovada pelo conselho —nesse caso, cumprindo o rito normal— devido a uma agressão física (chutes e empurrões) a um militante do MBL (Movimento Brasil Livre). O caso pode ser votado pelo plenário da Câmara no segundo semestre.

Foto: Ranier BragonO deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), ao fundo, na sessão do Conselho de Ética que analisou a suspensão do mandato de Gilvan da Federal (PL-ES), em primeiro plano
O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), ao fundo, na sessão do Conselho de Ética que analisou a suspensão do mandato de Gilvan da Federal (PL-ES), em primeiro plano

Vários deputados bolsonaristas estiveram na sessão do conselho em defesa de Gilvan, mesmo não sendo membros do colegiado. Eles tentaram derrubar a sessão por meio de questionamentos regimentais, sem sucesso.

Alguns deles apoiaram de forma indireta as ofensas do parlamentar contra Gleisi.

"Ele [Gilvan] deveria receber uma medalha, um troféu, por falar o que muitos deputados não têm moral para falar", disse o deputado Delegado Caveira (PL-PA).

O relator do caso, Ricardo Maia (MDB-BA), afirmou que a acusação contra Gilvan vai além "de uma simples divergência política ou de um embate retórico acalorado", ultrapassando "os limites da liberdade de expressão parlamentar, com ataques pessoais e desqualificação moral".

Na defesa apresentada ao conselho, Gilvan disse que apenas citou a lista da Odebrecht e que não se referia a alguém específico, além de ter pedido desculpas e "reconhecendo publicamente que
errou ao fazer determinada afirmação tida por ofensiva".

Hugo Motta havia alertado os parlamentares acerca de desvios de conduta e excesso de agressividade entre os pares.

A cobrança aconteceu durante a reunião de líderes da última quarta-feira (31) e tomou metade do tempo do encontro, segundo deputados presentes.

Ao apresentar ao conselho a sugestão de suspensão, Motta inaugurou o rito proposto na gestão Lira. Comumente são partidos adversários dos parlamentares que entram com este tipo de requerimento.

Na sessão da Câmara da última segunda-feira (5), Gilvan da Federal foi ao plenário fazer um mea culpa.

O parlamentar afirmou que, naquele momento, assumia o compromisso de "não fazer o que eu vinha fazendo", com relação a repetidas agressões. "Peço desculpas a quem se sentiu ofendido e ao presidente da Câmara", afirmou.

Motta respondeu na mesma sessão que não iria permitir agressões entre parlamentares. "No fundo, quando agimos dessa forma, quem vai para a lama, é a imagem da Câmara dos Deputados", afirmou. "Podem ter certeza que procuraremos sempre zelar pela ordem, venha de quem vier [a agressão]", completou.

O parecer da Mesa da Câmara, que é assinado também por Motta, diz que Gilvan da Federal "fez insinuações abertamente ultrajantes, desonrosas e depreciativas" contra Gleisi, "em evidente abuso das prerrogativas parlamentares, o que configura comportamento incompatível com a dignidade do mandato".

Além da suspensão cautelar do mandato, o Conselho abrirá agora um processo de cassação que, esse sim, seguirá o rito normal.

O caso votado nesta terça não é o único relativo a Gilvan. Em março, ele foi condenado pelo Tribunal Regional Federal do Espírito Santo por violência política de gênero por ter chamado Camila Valadão (PSOL) de "satanista" e "assassina de bebês" quando ambos eram vereadores em Vitória.

No início de abril deste ano, também em sessão da Comissão de Segurança Pública, Gilvan chegou a afirmar que desejava a morte de Lula.

"Por mim, eu quero mais é que o Lula morra! Eu quero que ele vá para o quinto dos inferno! É um direito meu. Não vou dizer que vou matar o cara, mas eu quero que ele morra!"

 

 

Fonte: Revista40graus / Folha

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