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Lula vai tentar costurar neutralidade de aliados de centro e de direita em 2026

Ideia é reduzir danos, já que, por ora, é dado como certo que alguns partidos não apoiarão reeleição
Redação

Diante da cada vez mais pública manifestação de infidelidade dos partidos de centro e de direita hoje no governo Lula (PT), petistas e integrantes do Palácio do Planalto afirmam que vão trabalhar para que União Brasil, PP, Republicanos, PSD e MDB fiquem neutros nas eleições de 2026, ou seja, não apoiem formalmente a candidatura do campo bolsonarista.

A ideia é também investir no apoio regional de lideranças desses partidos, caso alguns deles coliguem, formalmente, com um candidato adversário de Lula.

Esses cinco partidos controlam 11 ministérios e são cruciais para a manutenção da governabilidade de Lula no Congresso Nacional, tendo em vista o caráter minoritário da esquerda na Câmara e no Senado.

Foto: Olivier Chassignole - 9.jun.2025/AFPLula acompanha tradução simultânea de fala durante visita à sede da Interpol, em Lyon (França)
Lula acompanha tradução simultânea de fala durante visita à sede da Interpol, em Lyon (França)

Até pouco tempo, havia uma movimentação de bastidores principalmente no MDB e no PSD para ocupar a vice na possível chapa de Lula à reeleição, mas hoje esse cenário é visto como pouco provável não só nessas siglas, mas no governo e no PT.

Os ventos mudaram, pelo menos por ora, em decorrência da aparente instabilidade na popularidade presidencial e do esgarçamento da relação com o Congresso em meio às crises do Pix, do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e, mais recentemente, do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

Pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (12), mostrou que o movimento de recuperação na avaliação de Lula por enquanto está instável. 

De acordo com aliados do presidente, se não houver uma recuperação da popularidade, a neutralidade dos cinco partidos aliados, ou de parte deles, já será um bom resultado para o governo.

A ideia, nesse caso, é repetir em linhas gerais o que ocorreu no segundo turno da campanha de 2022, quando Lula enfrentou o então titular do cargo, Jair Bolsonaro (PL). Na ocasião, nenhuma das cinco legendas apoiou formalmente o PT —duas delas, PP e Republicanos, estavam, inclusive, na chapa de Bolsonaro—, mas Lula contou com o trabalho de alas das legendas.

Uma das mais simbólicas, por exemplo, foi a adesão da hoje ministra Simone Tebet (Planejamento), que disputou o primeiro turno pelo MDB e ficou em terceiro lugar, com 4,16% dos votos válidos.

Hoje o cenário vem se repetindo. Apesar de os cinco partidos manifestarem em muitos casos oposição ao governo, alas dessas siglas permanecem fieis ao PT e devem integrar o palanque de Lula seja qual for a decisão formal de suas respectivas legendas.

No MDB, por exemplo, os grupos políticos ligados a Tebet, ao governador Helder Barbalho (PA) e ao senador Renan Calheiros (AL) tendem a ficar ao lado do petista seja qual for a decisão formal do partido.

O PT dá como certo que, no Republicanos, o atual ministro Silvio Costa Filho (Portos) também estará com Lula.

O ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia), do PSD, já disse publicamente que estará na linha de frente da candidatura do petista à reeleição. Governistas também apostam no apoio de outros quadros do PSD, como o do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), considerado por Lula como o candidato ideal para governo de Minas Gerais, do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, do senador Otto Alencar (BA) e do líder do partido na Câmara, Antonio Brito (BA).

No PP, além do ministro André Fufuca (MA), governistas falam no ex-presidente da Câmara Arthur Lira (AL). Apesar de o parlamentar tecer duras críticas ao Executivo, ele é um dos integrantes do PP que rechaça ruptura com o Palácio do Planalto neste momento.

Até no partido mais infiel da base, o União Brasil, o governo espera angariar apoio que perdure até o palanque. O principal deles é o do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), principal base da manutenção da sigla no governo.

O ministro Celso Sabino (Turismo), deputado federal licenciado do União Brasil, já deu declarações públicas de que trabalhará pelo apoio do partido a Lula em 2026. O ex-ministro Juscelino Filho (MA) também é visto como um aliado dentro da sigla.

De acordo com relatos, Sabino tem atuado nos bastidores para tentar aproximar a cúpula de seu partido de Lula. Nesta semana, se reuniu com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e discutiu, entre outras coisas, a possibilidade de um encontro entre o petista e o presidente do União Brasil, Antonio Rueda. Se isso ocorrer, será o primeiro encontro de Lula e Rueda desde que este assumiu a presidência da sigla.

A possibilidade de reuniões entre Lula e presidentes de partidos da base aliada vem sendo discutida por integrantes do Palácio do Planalto há alguns meses. Se antes isso era aventado para tratar da propagada reforma ministerial, a ideia, agora, é que essas conversas ocorram tendo como pano de fundo o pleito de 2026.

O próprio presidente afirmou em entrevista no começo do mês que ainda discutirá com os partidos que integram a Esplanada para fazer uma "decisão política" sobre 2026. A ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) tem se reunido com representantes dos partidos nas últimas semanas e deve levar a Lula a possibilidade de concretizar os encontros.

A aliança de conveniência firmada por Lula 3 tem resultado em diversos exemplos explícitos de rebelião.

A análise das principais votações ocorridas no plenário da Câmara em 2025, por exemplo, mostra que 55% dos parlamentares dessas cinco legendas não chegaram a apoiar nem metade dos projetos defendidos pelo Palácio do Planalto.

O União Brasil formou uma federação com o PP em clima de oposição e, na quarta-feira (11), chegou a convocar uma entrevista para anunciar que iria "fechar questão" contra o pacote de aumento de impostos do governo mesmo antes de a proposta ter sido formalizada pelo Planalto.

Nos bastidores, e em alguns casos abertamente, líderes e integrantes dessa base defendem e trabalham pela candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O único entrave a esse sonho de consumo do centrão continua sendo Bolsonaro, hoje o maior líder popular da direta.

Inelegível e prestes a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal pela trama golpista, o ex-presidente não assegura ainda apoio a Tarcísio. Publicamente, diz se manter candidato, mas avalia nomes da própria família: a mulher, Michelle, e os filhos Eduardo e Flávio Bolsonaro.

PRINCIPAIS ELOS DOS PARTIDOS COM O GOVERNO

União Brasil

  • Davi Alcolumbre (AP), presidente do Senado
  • Celso Sabino, ministro do Turismo
  • Juscelino Filho, ex-ministro das Comunicações

MDB

  • Renan Filho, ministro dos Transportes
  • Renan Calheiros (AL), senador
  • Jader Filho, ministro das Cidades
  • Helder Barbalho, governador do Pará
  • Simone Tebet, ministra do Planejamento

PSD

  • Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia
  • Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro
  • Antonio Britto (BA), líder da bancada na Câmara
  • Otto Alencar (BA), líder da bancada no Senado
  • Rodrigo Pacheco (MG), ex-presidente do Senado

PP

  • André Fufuca, ministro do Esporte
  • Arthur Lira (AL), ex-presidente da Câmara

Republicanos

  • Silvio Costa Filho, ministro dos Portos

Fonte: Revista40graus e colaboradores

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