Quando a Política Faz Malabarismo

PF Desmonta Manobra que Tentou Driblar a Verdade — e Acabar Protegendo o CV
Redação

Se alguém ainda tinha dúvidas de que certas engrenagens políticas no Rio de Janeiro funcionam em modo acrobático, a Polícia Federal acaba de oferecer o roteiro completo — com direito a manobra regimental, silêncio conveniente e até figurinha de cervejinha no meio da crise. Tudo, claro, dentro da legalidade da investigação e em favor de uma sociedade que não aguenta mais truques de bastidores.

Foto: Palácio Guanabara
Cláudio Castro (à direita), Rodrigo Bacellar (ao centro) e Thiago Pampolha (à esquerda) durante reunião em 2024

A PF identificou relação direta entre a jogada realizada pelo governador Cláudio Castro (PL) e pelo presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), e o objetivo de poupar TH Joias, preso em setembro sob suspeita de intermediar negociações para o Comando Vermelho. A tal “estratégia genial” consistiu em exonerar o então secretário de Esportes, Rafael Picciani, para que ele reassumisse sua cadeira na Alerj — o que, por efeito dominó, derrubou o mandato de TH Joias como suplente. Pronto: a Casa nem precisou votar sobre a manutenção da prisão. Mágica legislativa.

Procurados, Castro e Bacellar seguiram a cartilha clássica do “não estamos disponíveis no momento”. Nem o União Brasil quis comentar. A PF, porém, comentou por todos: classificou a costura como manobra para “proteção de agentes políticos aliados” ao Comando Vermelho, conforme citado pelo ministro Alexandre de Moraes na decisão que determinou a prisão de Bacellar nesta quarta-feira (3).

Continue lendo após a publicidade

Na época, Castro chegou a postar no X que o retorno de Picciani “já estava previsto” e que a operação mostrava que “a lei vale para todos”. Pois é. A própria PF agora trabalha com a hipótese de que o vazamento da prisão de TH — atribuído a Bacellar — serviu justamente para proteger aliados do CV. Desses detalhes a postagem não falou.

As investigações revelam conversas nada discretas entre Bacellar e TH, incluindo o ex-deputado chamando o presidente da Alerj de “01” e este respondendo com uma figurinha animada enquanto o aliado comunicava que estava com celular novo — provavelmente para facilitar o plano de fuga, segundo a PF. No dia da operação, Bacellar teria sido atualizado em tempo real, por foto, sobre a presença dos agentes federais. Só faltou a pipoca.

A Operação Zargun já havia apontado que TH Joias atuava na intermediação de armas e equipamentos antidrones para o Comando Vermelho, além de empregar pessoas supostamente ligadas à facção em seu gabinete. Nada disso, claro, figurava nos discursos de moralidade política.

A defesa de Bacellar diz que ele não obstruiu investigações e esclareceu tudo à PF. A Alerj, por sua vez, afirmou que ainda não foi oficialmente comunicada e tomará as “medidas cabíveis” — expressão perfeita para preencher qualquer vazio.

Enquanto isso, a PF segue cumprindo seu papel constitucional com precisão cirúrgica, e a sociedade assiste, entre indignação e ironia, mais um capítulo que prova por que o Brasil clama, cada vez mais alto, por verdade, transparência e justiça.

Leia também