Centrão mantém preferência por Tarcísio, apesar da “benção” de Bolsonaro a Flávio
Lideranças veem candidatura como possível estratégia da família para manter protagonismo e testam quem tem força na direitaO anúncio de Flávio Bolsonaro como escolhido do ex-presidente para a disputa de 2026 mexeu com o tabuleiro — mas, ao que tudo indica, não com a cabeça do centrão. Dirigentes e lideranças do bloco continuam declarando preferência por Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, considerado pelos partidos como a aposta mais competitiva para enfrentar Lula (PT) na corrida ao Palácio do Planalto.
Nos bastidores, a leitura é direta: Tarcísio teria capacidade de unir PL, PP, Republicanos, União Brasil e PSD. Flávio, por sua vez, enfrentaria resistência, fragmentaria a direita e alimentaria uma disputa interna entre pré-candidatos já postos, como os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Júnior (PSD-PR). A calculadora eleitoral do centrão, aparentemente, continua funcionando no modo pragmático.
De forma reservada, dirigentes afirmam que dificilmente Flávio conseguirá apoio amplo. Pesquisas internas indicam que Tarcísio teria desempenho superior — e com menos rejeição herdada do sobrenome Bolsonaro. Para completar, aliados lembram que o governador paulista não parece empolgado em entrar em um palco com Lula e o próprio bolsonarismo disputando o centro das atenções. Ele só aceitaria a missão com unidade — item raro no mercado político da direita.
O anúncio da candidatura do senador também foi recebido com certo ceticismo. Há quem veja o gesto como uma forma de manter a militância mobilizada e preservar protagonismo em meio ao novo cenário: Bolsonaro inelegível desde 2023 e cumprindo pena em regime fechado por tentativa de golpe de Estado. Segundo essa avaliação, Flávio pode não levar sua candidatura até o fim — seu mandato no Senado termina exatamente em 2026.
Outro ponto levantado pelos analistas é o timing: lançar uma candidatura com tanta antecedência expõe o senador aos adversários, sua trajetória e, claro, às polêmicas familiares. Em 2021, o STF anulou as provas do caso da “rachadinha”, que envolvia Flávio e Fabrício Queiroz. O episódio ainda ecoa nas críticas da oposição.
Enquanto isso, o discurso público tenta neutralizar a tensão. Antônio Rueda, presidente da federação que reúne União Brasil e PP, criticou a polarização e defendeu um projeto que una a direita — sem citar Flávio ou Tarcísio. Já Ronaldo Caiado disse respeitar a decisão de Bolsonaro, mas reafirmou que continua pré-candidato. Romeu Zema, por sua vez, viu lógica no movimento: “múltiplas candidaturas ajudam no segundo turno”, declarou.
A comemoração mais entusiasmada ficou restrita aos aliados históricos do bolsonarismo, como Damares Alves e Rogério Marinho, que rapidamente endossaram o nome do senador. Para eles, se Bolsonaro apontou, está apontado.
No centrão, porém, a conta é simples: agradece-se a benção, mas a preferência continua sendo por quem, na avaliação interna, tem mais chance de vencer. No jogo da sucessão, o anúncio de Flávio pode ter servido mais como movimento estratégico da família Bolsonaro do que como definição final da candidatura da direita.
Fonte: Revista40graus, mídias, redes sociais e colaboradores
