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PDT rompe com governo na Câmara e diz que ficará independente

Partido impõe revés a Lula e fala em candidatura alternativa em 2026; bancada do Senado fica na base
Redação

A bancada do PDT na Câmara, com 17 deputados, decidiu deixar a base do governo Lula (PT) e discutir candidaturas alternativas para a eleição presidencial de 2026 após a saída de Carlos Lupi do Ministério da Previdência.

O rompimento do partido, aliado do petista desde o começo do mandato, é mais um revés para Lula na relação com o Congresso Nacional, onde mantém alianças instáveis e oposição de parte dos parlamentares de partidos do centrão que integram a Esplanada dos Ministérios.

Sob pressão no governo em razão do escândalo de fraude no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), Lupi pediu demissão na última sexta (2). Para o lugar dele, Lula nomeou Wolney Queiroz, que era o número 2 na pasta. O partido trata a escolha como pessoal do presidente, já que não foi consultado sobre a substituição.

Foto: Stephan Eilert - 2.out.22/AFPO ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), durante a campanha de 2022
O ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), durante a campanha de 2022

"Neste momento, estamos nos colocando em posição de independência", disse o líder do PDT na Câmara, Mário Heringer (MG). "O PDT na eleição anterior ofereceu alternativa para a Presidência e a gente acha que pode oferecer alternativa também para 2026", afirmou.

No Senado, a bancada do PDT divergiu da bancada do partido na Câmara e anunciou que seguirá na base do governo. A decisão foi tomada de forma unânime pelos três senadores do partido: Weverton Rocha (MA), líder do grupo, Ana Paula Lobato (MA) e Leila Barros (DF).

"A decisão foi tomada tendo por base a afinidade da bancada com o governo tanto no projeto de desenvolvimento para o Brasil como na maioria das pautas no Senado. A bancada do Senado respeita a posição da bancada na Câmara dos Deputados e, embora tenha um posicionamento diferente, reitera que o partido segue unido em defesa dos ideais trabalhistas", disse Weverton em nota.

Em 2022, o PDT lançou à Presidência Ciro Gomes, que ficou em quarto lugar, com apenas 3% dos votos válidos. A sigla apoiou Lula no segundo turno.

A decisão de sair da base do governo foi tomada em reunião dos deputados do partido com Lupi na manhã desta terça-feira (6). Ciro não participou do encontro.

A ministra Gleisi Hoffmann (PT), da SRI (Secretaria de Relações Institucionais), conversou com Heringer na segunda (5) e pretende se encontrar com toda a bancada nos próximos dias para tentar reverter a posição. "Respeitamos o posicionamento da bancada e seguimos dialogando com o PDT, contando com o apoio do partido nas matérias de interesse do país", afirmou ela após a decisão da sigla.

Apesar de Lupi e Wolney serem do PDT, a troca incomodou o partido, que argumenta que o ex-ministro não é citado na investigação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União sobre fraudes do INSS.

Lupi também discordou abertamente de Lula ao defender que o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, não deveria deixar o cargo após a operação policial.

Diferentemente do ex-ministro, porém, Stefanutto foi alvo da operação da PF. Ele nega as acusações.

Na reunião, Lupi se mostrou sentido com a demissão, recebeu a solidariedade dos colegas, mas pediu aos deputados que não estimulassem publicamente a candidatura de Ciro Gomes à Presidência.

Na sequência, fez uma metáfora na qual comparou o ex-presidenciável a uma fagulha, que pode incendiar e levar o partido a uma nova candidatura em 2026.

Nesta terça, Ciro participou de uma reunião na Assembleia Legislativa do Ceará na qual defendeu a união das oposições ao PT no estado, incluindo bolsonaristas. Em entrevista à imprensa, criticou a demissão de Lupi e defendeu o desembarque do PDT do governo Lula.

Apesar de deixar a base do governo, deputados do PDT dizem que a postura não será de oposição, mas de apoio a projetos de interesse do país e, principalmente, às pautas defendidas pela centro-esquerda. No grupo de WhatsApp da bancada, a versão de que eles deixarão de votar com o governo foi contestada.

A ideia é repetir o posicionamento de outras siglas que têm cargos na Esplanada, mas dizem que são independentes e não compõem oficialmente a base do governo, como PP —quem tem André Fufuca no Ministério dos Esportes—, União Brasil —com Celso Sabino (Turismo), Waldez Goés (Integração) e Siqueira Filho (Comunicações)— e Republicanos —sigla de Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos).

Os deputados do PDT, inclusive, afirmam nos bastidores que não pretendem abrir mão dos cargos indicados por eles no Executivo. Além de nomeações no Ministério da Previdência e no INSS, a sigla possui a Vice-Presidência Pessoas da Caixa Econômica Federal.

Essas siglas, sobretudo o União Brasil, costumam votar junto com o governo em projetos da área econômica, mas também ajudam a oposição a, por exemplo, conseguir assinaturas para a CPI do INSS na Câmara ou aprovar projetos da pauta de costumes no Congresso.

Por outro lado, essas três siglas têm perfil ideológico de direita, enquanto o PDT, historicamente, é de esquerda. Na avaliação de integrantes do centrão, isso tornará mais custoso politicamente para os pedetistas divergirem do governo.

Heringer afirmou que a decisão de ficar independente mudará a postura do partido nas votações. Se antes a sigla aderia 100% aos projetos do governo sem questionar, agora serão discutidos caso a caso e divergências serão autorizadas.

"Num caso desses, daqui para frente, será mais fácil a gente dizer: a bancada está liberada, cada um faz o que lhe aprouver", disse.

"Continuamos como base no governo no sentido das discussões macro, mas iniciamos uma reflexão sobre 2026 e sobre a relação política com o PT nos estados", afirmou o deputado Dorinaldo Malafaia (PDT-AP).

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