Troca de Comando e Insônia Seletiva
Novo secretário promete prioridade às mulheres — e herda o estrago deixado por Derrite
RedaçãoO novo secretário da Segurança Pública de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves, mal esquentou a cadeira e já revelou sua primeira declaração de impacto: “Não consegui dormir”. O motivo? O caso revoltante da mulher de 31 anos atropelada e arrastada por cerca de um quilômetro na zona norte.
Naturalmente, a população pode até se surpreender — não com a comoção, que é justa — mas com a súbita sensibilidade no topo da pasta logo após a saída de Guilherme Derrite, que deixou o governo para retornar ao Congresso. Afinal, se a falta de sono fosse critério, talvez o cargo estivesse vago há muito mais tempo.
Nico chamou o crime de “lastimável”, afirmou “orar pela vítima todos os dias” e prometeu que a proteção da mulher será prioridade. Uma espécie de “Plano Reconstrução”, depois de uma gestão marcada por declarações duras, índices contestados e uma sensação de segurança que — segundo o próprio sucessor — não acompanhou os relatórios otimistas deixados para trás.
“Todos os indicativos estão melhorando. Mas a sensação de segurança, não”, admitiu Nico. Um comentário que soa quase como um boletim de desempenho irônico sobre quem o antecedeu.
Operações policiais: o trabalho que realmente perde o sono
Enquanto discursos vão e vêm, o DHPP realizou nesta segunda uma operação robusta, prendendo cinco pessoas e apreendendo dois adolescentes por abuso sexual, exploração infantil e distribuição de pornografia infantil. Foram recolhidos celulares, notebooks e pendrives recheados de material criminoso.
Um dos casos mais brutais envolve um adolescente de 13 anos que abusava da própria irmã, de 9.
Para o delegado-geral Arthur Dian, a operação é apenas o começo:
“São dezenas ou centenas de casos que estamos analisando”.
É o tipo de investigação pesada, contínua e silenciosa — exatamente o oposto do espetáculo retórico que virou moda na gestão anterior.
Quem é o novo secretário
Nico, aos 68 anos, acumula décadas de atuação na segurança pública. Foi chefe da Antissequestro, delegado-geral, fundador do GOE e liderou equipes do Deic e do Garra. Não é um novato em palco algum, muito menos no da grande imprensa.
Entre suas capturas mais conhecidas estão:
- Fabrício Queiroz (2020), preso em Atibaia — caso que envolveu 15 policiais e cinco viaturas para localizar o ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
- Roger Abdelmassih (2014), médico condenado por estuprar dezenas de pacientes.
- Maurício Hernandez Norambuena, sequestrador do publicitário Washington Olivetto.
- E até o episódio sui generis de 2005, quando deu voz de prisão ao jogador Leandro Desábato, em pleno gramado da Libertadores, por racismo contra o atacante Grafite.
Ou seja, Nico tem currículo onde não faltam “operações reais” — justamente o que o novo momento da SSP parece demandar, após a fase dos holofotes e manchetes que caracterizou a gestão Derrite.
No final, resta a esperança de que, desta vez, a Segurança Pública de São Paulo durma melhor — mesmo que o novo secretário continue sem dormir. Afinal, depois do que herdou, insônia talvez seja até um sinal de responsabilidade.