Milei enfrenta terceira greve geral contra políticas de ajuste fiscal na Argentina

Protestos ocorrem enquanto país está à espera da aprovação de um acordo de US$ 20 bilhões com o FMI
Redação

O presidente argentino, Javier Milei, enfrenta, nesta quarta-feira (9), a terceira greve geral contra suas políticas de ajuste fiscal, enquanto espera receber um crédito do FMI (Fundo Monetário Internacional) de US$ 20 bilhões (R$ 121 bilhões).

As três principais centrais sindicais se mobilizaram em frente ao Congresso, junto com organizações sociais e aposentados, para pedir ao governo uma virada em suas políticas de ajuste.

A manifestação é o início do chamado para paralisação das atividades no país por 24 horas a partir da 00h01 desta quinta-feira (10). A convocação contou com a adesão de dezenas de sindicatos.

Continue lendo após a publicidade
Foto: 9.abr.25 - Tomas Cuesta/AFP
Protesto de pensionistas e sindicalistas contra o governo do presidente da Argentina, Javier Milei, em frente ao Congresso Nacional, em Buenos Aires.

"Diante de uma desigualdade social intolerável e de um governo que não atende às reivindicações por melhor renda e uma qualidade de vida digna para todas e todos, nós, os trabalhadores, paramos", diz a convocação.

O protesto coincide com uma viagem do presidente Milei ao Paraguai, onde se reúne, nesta quarta, em Assunção, com o presidente Santiago Peña, segundo a Presidência.

A greve ocorre enquanto o governo segue com altas expectativas depois que o FMI anunciou, na véspera, que o acordo técnico com a Argentina de US$ 20 bilhões estará pronto para ser examinado pela diretoria da instituição "nos próximos dias".

O governo de Milei havia anunciado anteriormente que a Argentina –de longe o maior devedor do FMI— estava em negociações sobre o novo empréstimo, que se soma aos US$ 44 bilhões que o país já deve.

A Argentina espera uma antecipação de pelo menos 40% do empréstimo para acalmar uma forte tensão cambiária devido à qual o Banco Central vendeu mais de US$ 1,8 bilhão (cerca de R$ 11 bilhões) de suas reservas nas últimas semanas.

Todos os sindicatos vinculados ao transporte público aderiram à greve, com exceção do que representa os funcionários de ônibus, o que pode reduzir o impacto da medida.

Os arredores do Congresso argentino foram cercados pela polícia em uma operação de segurança. Vários cartazes convocando para a greve cercaram a praça em frente ao palácio legislativo.

A marcha é realizada em apoio aos protestos dos aposentados em frente ao Congresso para reivindicar um aumento de benefícios. Os pensionistas são os mais afetados pelas medidas de ajuste do governo, que enfrentará eleições legislativas em outubro.

Milei, que mantém um apoio de 40% a 45% segundo as pesquisas, conseguiu reduzir a inflação de 211% em 2023 para 118% no ano passado, o que contribuiu para baixar a pobreza para os níveis de 2023 (38%), depois de tê-la levado a 52,9% nos primeiros seis meses de governo.

Mas a greve marca uma deterioração do clima social diante dos cortes orçamentários que causaram dezenas de milhares de demissões e uma queda do consumo que dura 15 meses consecutivos.

Foto: Reprodução
Presidente Milei da Argentina

Argentina volta ao FMI

O que foi acertado?

O FMI e a Argentina chegaram a um acordo técnico para um empréstimo de US$ 20 bilhões (R$ 119,8 bilhões), sujeito à aprovação do Conselho Executivo. A Casa Rosada quer um adiantamento desse valor, que pode ser de 40% e complementar esse valor com recursos vindos de outros organismos multilaterais

Quando deve ser aprovado?

Ainda em abril. O objetivo é renovar vencimentos de dívida e sustentar o dólar. Especialistas alertam, no entanto, que o empréstimo não seria suficiente para resolver a situação do país

Qual é o tipo de acordo?

O acordo com o FMI será semelhante ao que está atualmente em vigor no país. Oferece uma ajuda financeira a países que enfrentam problemas de balanço de pagamentos e requer em troca a implementação de reformas estruturais e medidas de estabilidade macroeconômica

O que se sabe até agora?

Está previsto um prazo de pagamento de dez anos, com carência de quatro anos, e a dívida será utilizada para resgatar a dívida do Tesouro com o Banco Central da Argentina e para saldar os vencimentos da dívida com o próprio FMI nos próximos quatro anos

O que diz o governo?

O ministro Luis Caputo disse que a diferença deste acordo para os anteriores é que nenhum outro governo fez ajustes macroeconômicos antes que o FMI os pedisse, embora o Fundo já tenha manifestado preocupação com a sustentabilidade do programa de Milei, sobretudo com respeito ao câmbio

Leia também