Após voo em jatinho, STF discute “manual de bons modos” para ministros

Fachin propõe código de conduta inspirado na Alemanha para evitar dúvidas sobre imparcialidade
Redação

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, decidiu que talvez seja a hora de colocar por escrito algo que, em tese, já era óbvio: ministros devem evitar situações que levantem dúvidas sobre a própria imparcialidade. Assim nasceu a proposta de um código de conduta unificado para o Judiciário — apresentada a colegas da Corte e dirigentes de tribunais superiores.

Foto: STF
Edson Fachin

A inspiração vem de longe: o Tribunal Constitucional da Alemanha, famoso pela precisão jurídica e por não misturar toga com eventos sociais patrocinados. A ideia ganhou velocidade depois que veio a público que Dias Toffoli pegou carona em um jatinho do empresário Luiz Oswaldo Pastore para assistir à final da Libertadores, em Lima. Um gesto de amizade, segundo Toffoli. Coincidência, segundo quem viu o ministro ser sorteado, pouco depois, como relator de um processo envolvendo o Banco Master.

O caso gerou incômodo interno e teria deixado Fachin particularmente “irritadíssimo” — irritação que, ao menos, agora rende um esforço institucional para estabelecer limites mais claros. A proposta alemã prevê que juízes até podem participar de eventos, dar palestras e escrever livros — desde que isso não gere dúvidas sobre independência e que toda remuneração extra seja divulgada. Despesas de viagem? Podem ser pagas, desde que não comprometam a reputação da Corte.

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Se aplicadas aqui, regras desse tipo exigiriam respostas simples para perguntas constrangedoras: pode ministro voar em jatinho de empresário que tem interesses na Corte? Pode participar de eventos bancados por grupos com ações sob sua relatoria? Com o código em vigor, ficaria mais difícil responder “sim” sem pelo menos uma nota pública explicando.

O modelo alemão também fala sobre o que não parece tão urgente, mas é igualmente útil: discrição. Juízes não devem emitir opiniões sobre temas que podem julgar e devem manter distância de vínculos sociais, políticos ou econômicos que afetem — ou pareçam afetar — sua neutralidade. Soa como uma aula de ética para quem já deveria ter o diploma.

Em resumo, a novidade é um lembrete elegante de que, no topo da Justiça, não basta ser imparcial — é preciso parecer imparcial. E jatinhos para finais de campeonato não ajudam muito nessa missão.

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