Ataque de Trump, por ora, ajuda mais Lula que Bolsonaro
Americano faz ameaça ao Brics e defesa descabida do ex-presidente
Desde que voltou à Casa Branca, em janeiro, Donald Trump vinha ignorando solenemente a relação com o Brasil, para onde nem embaixador plenipotenciário o americano indicou até agora.
Fora breve citação em que disse que o país de Luiz Inácio Lula da Silva precisa muito mais dos EUA do que vice-versa, um truísmo temperado com soberba, a relação entre Brasília e Washington era de distante a ausente.
Melhor para o petista: até por presidir um superávit comercial com o Brasil, até aqui Trump não criou grandes embaraços para o país em sua guerra tarifária. Mesmo no delicado tema da imigração ilegal, os entrechoques foram bem absorvidos pelo Itamaraty.
Deu-se assim até um hiato de 12 horas entre duas postagens do republicano. Na primeira, na noite do domingo (6), ele ameaçou nações que se alinhassem às "políticas antiamericanas" do Brics com uma sobretaxa de 10% às exportações para os EUA.
Na segunda, Trump publicou um pequeno libelo contra o sistema judicial brasileiro para defender o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no seu entender um alvo de "caça às bruxas" que deveria ser deixado "em paz".
Ambas as manifestações podem ser colocadas no escaninho das falas ao vento do republicano, dado à busca de alarido com pouca substância prática, que mais servem para energizar a direita populista que o segue.
O caso do Brics nem sequer é inédito. Trump já havia ameaçado com tarifas de 100% caso membros do grupo adotassem mecanismos excluindo o dólar de suas transações. Nada ocorreu.
O novo ruído se deu, porém, no momento em que o Brasil sediava a 17ª cúpula do bloco criado nos anos 2000, numa edição esvaziada que expôs sua baixa eficácia na organização de demandas do mundo emergente.
A ameaça veio em boa hora para Lula, permitindo-o sustentar que "os Brics estão incomodando". Para a política externa que claudica na busca por relevância, não deixa de ser um respiro.
Já a defesa de Bolsonaro, descabida intromissão em tema das instituições de outro país, não irá evitar a provável condenação por tentativa de golpe de Estado, mas pode ter implicações mais sérias na relação bilateral.
A família do ex-presidente trabalha para que o governo americano crie constrangimentos ao ministro Alexandre de Moraes, que comanda o julgamento do patriarca no Supremo Tribunal Federal. A caudalosa postagem de Trump pode criar a expectativa de novos movimentos.
Apesar do risco, de imediato Lula agradece. Não menos que três de seus ministros correram a responder ao americano, e o mandatário, que já se meteu em assuntos de outras nações, pôde rechaçar a ingerência externa.
Com isso, galvaniza também sua base e acena à fatia da população que tem ojeriza a Trump. Se a descoberta do Brasil pelo americano irá além do efêmero das redes, isso ainda é incerto.
Fonte: Revista40graus e colaboradores